Post nº
78
ÁTILA É PARALISADO NAS MURALHAS DE AQUILEIA PELA SUPERSTIÇÃO
Átila vingou-se da valente resistência da grande cidade romana de Aquileia destruindo-a até os alicerces após três meses de cerco |
Para adquirir estes livros clique acima em nossa livraria virtual ou no site da Amazon.com |
Átila ficara furioso com a sua derrota na Gália e decidiu vingar-se de Aécio invadindo a Itália no ano seguinte, onde ele sabia que a posição militar do seu adversário era frágil por não dispor de aliados poderosos como na Gália. O exército huno também ficara enfraquecido com a derrota nos Campos Catalúnicos, mas ainda era enorme se comparado com o isolado exército de Aécio. Por isso cruzou
os Alpes orientais no final de março de 452 DC e cercou Aquileia, a maior e mais importante cidade do nordeste da Itália, intimando-a a render-se. A cidade recusou os termos de rendição e a batalha começou. Aconteceu então um fato que paralisou os hunos: no alto
das muralhas havia soldados negros como carvão!
A massa de
guerreiros hunos jamais vira gente dessa cor e ficou aterrorizada, pensando que certamente
eram demônios que tinham vindo defender a cidade. Na verdade os “demônios” eram
guerreiros vindos do sul do grande deserto africano, sobreviventes de uma feroz
guerra tribal. Tinham se incorporado como guardas a uma grande caravana que
seguia rumo a Cartago. Quando lá chegaram, maravilharam-se com a imensa
metrópole, mas ficaram desempregados e o sheik seu ex-patrão, um homem
compassivo que se afeiçoara a eles, procurou ajudá-los. Como os guerreiros não
sabiam fazer outra coisa senão lutar, o sheik lhes procurou emprego de natureza
militar e soube que no sul da Itália legiões romanas estavam recrutando
mercenários para preencher seus quadros devastados na recente guerra contra os
hunos. Conseguiu passagens para eles em navios que se dirigiam aos portos do
sul da península e pediu aos capitães seus amigos que os encaminhasse aos postos
de recrutamento tão logo desembarcassem.
Assim
aconteceu, e uma centena deles foi incorporada a uma legião juntamente com
milhares de mercenários das mais diversas nacionalidades que para lá iam em
busca de emprego. A grande legião perdera metade dos seus efetivos e por isso
alistara mais de três mil mercenários, todos eles experientes na arte da
guerra. Os duros treinamentos durante o outono e o inverno lhes ensinaram a
disciplina e as táticas de combate romanas, fazendo com que a legião readquirisse seu antigo poderio e
estivesse pronta para a batalha ao ser mandada para Aquileia no começo da
primavera. Quatro dias após sua chegada os hunos aproximaram-se e a luta
começou.
Foi quando
viram os soldados negros e recuaram em pânico.
Átila, ao
contrário da nossa propaganda na época, e que continua sendo repetida até hoje,
não tinha nada de ignorante: conhecia várias cidades do norte da Itália,
inclusive Ravena, e sabia falar, ler e escrever latim razoavelmente. Durante
suas visitas à Itália vira pessoas de pele escura e sabia que elas não tinham
nada a ver com “demônios”; por isso fez um veemente discurso aos supersticiosos
soldados censurando-lhes a covardia e explicando-lhes que os soldados negros de
quem tanto tinham medo eram gente comum, vinda de um lugar distante do outro
lado do mar, onde o calor abrasador queimava a pele do povo e lhe dava a cor
negra.
Ao contrário do que diz a história oficial, Átila não tinha nada de selvagem e o filósofo bizantino Crispus, que foi embaixador de Constantinopla na sua corte, diz que ela era bastante sofisticada |
Certo de que
suas explicações tinham bastado ordenou novo ataque, mas os soldados
mantiveram-se a uma distância segura atirando flechas e pesadas pedras com as
suas catapultas ao invés de tentarem escalar a muralha.
Indignado,
Átila ordenou várias execuções por covardia, e ele pessoalmente cortou a cabeça
de meia dúzia de “covardes”, mas isso em nada melhorou o ânimo combativo das
tropas. Ele estava sem entender o que se passava na mente dos soldados
acovardados quando um dos seus generais o procurou e disse-lhe: “Os homens não
são covardes nem tem medo de morrer em combate, pois sabem que se morrerem
lutando uma bela Valkiria levará suas almas para o Valhalla, onde passarão a
eternidade caçando e galopando pelos seus paradisíacos campos sem fim; mas
acham que se forem mortos por um demônio
imortal este se tornará dono das suas
almas e as levará para o inferno onde sofrerão eternamente”!
“Então é
isso”, disse Átila, “Os soldados acham que os negros são demônios porque são
imortais; se é assim, só há uma solução: matar um deles”!
Ele notara que
os legionários negros tinham se divertido com a “covardia” dos atacantes e por
isso ficavam imprudentemente de pé nas ameias fazendo gestos obscenos e
zombando do inimigo, que até então se conservara à distância. Mandou suas
tropas se postarem em frente da cidade e calmamente as passou em revista;
depois fez meia volta e se aproximou da muralha, galopando velozmente ao longo
dela sob uma chuva de flechas enquanto mirava cuidadosamente um dos legionários
negros de pé sobre a ameia. O disparo do seu arco foi preciso e o soldado
imprudente caiu do alto com o pescoço trespassado por uma flecha certeira.
Quando voltou
da sua teatral corrida sob os aplausos ensurdecedores das suas tropas o valente
rei dos hunos lhes disse: “Vocês viram que os negros não são demônios, pois não
são imortais; vamos agora lutar de verdade e derrotá-los”! Os ferozes
guerreiros atacaram em massa e só então a batalha de Aquileia realmente
começou.
Por incrível
que pareça a cidade resistiu três meses!
O exército de Aécio na Itália era muito inferior ao de Átila e ele adotou a tática de guerrilhas ao invés de enfrentar os hunos em campo aberto. Por isso não pôde socorrer Aquileia. |
Aécio ficara
surpreso por Átila não haver desistido depois do primeiro mês, pois os hunos
gostavam de lutar em campo aberto, galopando velozmente e disparando flechas
contra o inimigo, mas detestavam cercos prolongados, nos quais tinham de lutar
a pé escalando muralhas. Nesse tipo de luta, enquanto alguns grupos atacavam e
eram repelidos os demais ficavam ociosos aguardando sua vez de atacar; isto os
irritava e desgastava, e sempre que podiam evitavam tal tipo de combate. Também
o surpreendeu o fato de Átila não ter deixado uma fração das suas tropas
cercando a cidade e avançado com seu imenso exército sobre o resto da Itália.
Do ponto de vista
militar a atitude do rei huno não fazia sentido.
O que Aécio só
veio saber depois é que a covardia dos hunos diante dos “demônios” humilhara
Átila profundamente e ele decidira vingar-se da zombaria dos legionários; por
isso resolvera recuperar sua honra militar destruindo a cidade com ataque após
ataque a fim de não dar descanso aos defensores e esmagá-los rapidamente. Porém
os legionários lhe opuseram tenaz resistência, fazendo-o apegar-se ainda mais
ao seu infantil projeto de vingança, alheio ao bom senso militar. O orgulho
ferido de Átila, portanto, teve grande influência no resultado final da
campanha.