Post nº 61
CAVALEIROS TEUTÔNICOS - A SINISTRA ORDEM MILITAR MEDIEVAL QUE SE TORNOU UM IMPÉRIO
I
A FUNDAÇÃO NA PALESTINA DA ORDEM DOS
CAVALEIROS TEUTÔNICOS
CAVALEIROS TEUTÔNICOS
Nos primeiros anos das cruzadas o grosso dos seus participantes vinha da Europa Ocidental e o reino católico de Jerusalém era essencialmente francês, mas nos anos 1130 começaram a chegar grandes levas de peregrinos e militares alemães da Europa Central, chamados na época de teutônicos. Como não tinham sido parte do Império Romano, poucos falavam latim e quase todos ignoravam as línguas neolatinas, o que lhes tornava difícil a comunicação com os não alemães na Palestina, onde a língua usada pelos católicos era o francês. Assim, um grupo de sacerdotes e cavaleiros alemães criou uma instituição para hospedar e dar assistência aos seus compatriotas, por eles batizada “Casa de Santa Maria dos Teutônicos” (“Domus Sanctae Mariae Theutonicorum”). Durante meio século a instituição desempenhou relevante papel assistencial e tornou-se uma espécie de “embaixada alemã” em Jerusalém, mas com a reconquista do sultão Saladino em 1187 a Casa de Santa Maria dos Teutônicos mudou-se para outra cidade da Palestina ainda em mãos dos cruzados. Na III Cruzada (1189-1193) o próprio imperador alemão veio à frente de numeroso exército, que não chegou a ter papel importante nas lutas devido à morte acidental do poderoso monarca ainda nos seus estágios iniciais e regressou, mas muitos cavaleiros ficaram para continuar lutando contra os muçulmanos ao lado dos reis Felipe Augusto e Ricardo Coração de Leão, que segundo voz geral estavam se preparando e em breve chegariam à Terra Santa.
Em 1192 os cruzados alemães fizeram da Casa o seu quartel-general e fundaram uma Ordem Militar a que deram o nome de “Ordem da Casa de Santa Maria dos Combatentes Teutônicos” (Ordo Domus Sanctae Mariae Vexillum Theotonicorum) . Pouco depois seus estatutos foram aprovados pelo Papa e eles adotaram como brasão a cruz teutônica negra em campo branco, séculos mais tarde tornada a mais alta condecoração militar alemã com o nome de “Cruz de Ferro”.
Inspirada na cruz negra Teutônica, o reino da Prússia criou a "Cruz de
Ferro", alta comenda militar.
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Logo o seu extenso nome foi abreviado pelo povo e a Ordem ficou conhecida como Ordem dos Cavaleiros Teutônicos, cujos membros chegaram a cerca de quinhentos durante os combates que se seguiram. Porém o fim da III cruzada fez a maioria regressar à pátria e apenas uma centena deles ficou na Palestina para prosseguir na luta. A partir daí o seu número voltou a crescer muito lentamente, o que não os impediu de destacarem-se nos combates por sua invulgar disciplina e por construírem sólidos castelos na Terra Santa.
Hermann von Saltza, eleito 4º grão-mestre da Ordem em 1208 e a governou
por mais de trinta anos. Tela de artista anônimo do século XVI
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O seu número havia se estabilizado em torno de trezentos quando em 1208 o barão Hermann Von Saltza foi eleito grão-mestre e deu enorme impulso ao progresso da Ordem, pois tinha forte liderança e altas conexões políticas. Estas fizeram o rei da Hungria convidá-lo para sediar a Ordem no seu principado vassalo da Transilvânia na Romênia e ajudá-lo a controlar os seus rebeldes súditos, todos eles cristãos ortodoxos que repudiavam o domínio católico dos nobres húngaros e dos mercadores alemães estabelecidos no país.
II
O DOMÍNIO TEUTÔNICO DA TRANSILVÂNIA
Em 1211 o poderoso barão Von Saltza e os seus excelentes cavaleiros, que a essa altura tinham dobrado de número e já somavam mais de seiscentos, disseram adeus à Palestina e rumaram para o leste europeu, abandonando de vez os objetivos cruzados que tinham motivado a criação da Ordem a que pertenciam. Transformados em “defensores” de interesses econômicos destituídos de motivações religiosas, os Cavaleiros Teutônicos implantaram na Transilvânia um regime de puro terror e a Ordem da Casa de Santa Maria tornou-se ela própria rica dona de terras e maior exploradora dos recursos locais, oprimindo e massacrando a população cristã ortodoxa romena. Desde então a sua espada não mais se voltaria contra os muçulmanos, mas apenas contra os pagãos e os “hereges” cristãos ortodoxos.
Essa nova postura a fazia poderosa senhora feudal e incansável construtora de castelos no território ocupado, mas também a tornava carente de princípios e sem atrativos para os jovens cavaleiros alemães devotos, os quais sonhavam com a gloriosa reconquista dos lugares santos na Palestina e não com roubalheiras na Romênia. Por isso deixaram os Teutônicos para se juntarem aos Templários e aos Hospitalários, que tinham ficado fiéis aos seus estatutos, lutando com ardor contra os muçulmanos na honrosa tentativa de reconquistar Jerusalém. As muitas defecções do que havia de mais idealista em seus quadros obrigaram a gananciosa Ordem Teutônica a contratar grande número de mercenários e por volta de 1220 eles já eram maioria em suas fileiras. O resultado foi que ela ficou militarmente ainda mais forte, porém ainda mais insensível e voraz.
Os cavaleiros devotos queriam reconquistar Jerusalém e não saquear a Romênia, por isso abandonaram a
Ordem Teutônica e juntaram-se à Ordem Templária na Palestina. Iluminura do século XII
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Essa nova postura a fazia poderosa senhora feudal e incansável construtora de castelos no território ocupado, mas também a tornava carente de princípios e sem atrativos para os jovens cavaleiros alemães devotos, os quais sonhavam com a gloriosa reconquista dos lugares santos na Palestina e não com roubalheiras na Romênia. Por isso deixaram os Teutônicos para se juntarem aos Templários e aos Hospitalários, que tinham ficado fiéis aos seus estatutos, lutando com ardor contra os muçulmanos na honrosa tentativa de reconquistar Jerusalém. As muitas defecções do que havia de mais idealista em seus quadros obrigaram a gananciosa Ordem Teutônica a contratar grande número de mercenários e por volta de 1220 eles já eram maioria em suas fileiras. O resultado foi que ela ficou militarmente ainda mais forte, porém ainda mais insensível e voraz.
Para solidificar seu domínio na Transilvânia, os Cavaleiros Teutônicos construíram vários castelos, mais
tarde usados pelo Conde Drácula em suas guerras contra os turcos. Este é o mais famoso.
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Sempre proclamando-se a serviço da Igreja de Roma, poucos anos depois o seu excessivo poder, fome de riquezas e completo domínio da Transilvânia começaram a inquietar o rei húngaro até que ele se viu forçado a adotar medidas drásticas quando foi informado que Von Saltza pleiteava secretamente junto ao Papa fosse o principado reconhecido como “Estado Eclesiástico” de propriedade dos Cavaleiros Teutônicos e vassalo unicamente da Igreja. Mobilizando poderoso exército, muito superior ao da Ordem, o rei intimou Von Saltza a entregar-lhe todos os magníficos castelos que construíra no principado e dele retirar-se imediatamente.
III
O IMPÉRIO DOS CAVALEIROS TEUTÔNICOS
NO NORTE DA EUROPA
Diante da inércia de Roma, que nada fez para ajudá-lo, Von Saltza viu que cometera um clamoroso erro de cálculo e que não poderia resistir às superiores tropas húngaras. Assim, aproveitando-se de um providencial convite do católico rei polonês, em 1225 rumou para o norte com o tesouro da Ordem e os seus cavaleiros. Chegando à Polônia, o rei Konrad I o fez ciente dos graves problemas que o país enfrentava no norte, onde os pagãos lituanos, que habitavam o litoral nordeste do mar Báltico, tinham ocupado a Prússia Oriental e ameaçavam Varsóvia.
Expulsos da Transilvânia, os Cavaleiros Teutônicos foram para a Prússia Oriental, onde construíram magnífico castelo para sua sede na cidade de Marienburg, hoje na Polônia
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Von Saltza e os seus treinados batalhões de cavaleiros pesadamente couraçados lançaram-se ao combate, conseguindo em poucos anos expulsar os invasores pagãos da Polônia e dominar largas faixas de território, dos quais se tornaram proprietários por direito de conquista. Entre os seus novos valiosos domínios estava toda a Prússia Oriental, o que lhes permitiu estabelecerem-se firmemente no que seria o seu lar definitivo durante séculos. As grandes vitórias obtidas em pouco tempo contra os pagãos nórdicos deram aos Cavaleiros Teutônicos não somente fama e vastas propriedades, mas também a hegemonia política e militar no nordeste da Europa, fazendo com que suas fileiras aumentassem substancialmente devido ao grande número de nobres alemães que correram a se alistar sob sua bandeira. Isto fez do seu imponente castelo na cidade de Marienburg movimentado quartel e sede do incontrastável poder econômico e militar da Ordem na região. Quando Von Saltza morreu em 1239, após exercer durante décadas o seu grão-mestrado, ele e os seus principais oficiais tinham sido elevados à categoria de príncipes e a Ordem conquistara vastos territórios no litoral do mar Báltico, incluindo a Lituânia ao norte e partes mais a leste da Prússia Ocidental ao sul. Façanhas tão notáveis em tão curto espaço de tempo fizeram-na grande potência militar e lhe deram enorme prestígio político, conferindo-lhe voz ativa nos negócios do Sacro Império Romano-Germânico. Isto a colocou no mais alto nível internacional, com posição igual ao da Polônia e da Hungria, os dois reinos católicos mais importantes do leste europeu.
O exército da Ordem era pequeno, mas era o melhor da Europa. Sua semelhança com as tropas do Império
do Mal na série "Guerra nas Estrelas" é marcante
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Com sua soberania firmemente assentada sobre cidades nórdicas importantes como Dantzig, Koëningsberg e Riga, ela também se estendeu para o sul, tornando-se senhora de grandes feudos na Tchecoslováquia e na Áustria. Mas o seu objetivo principal era a conquista de toda a costa oriental do mar Báltico até o Golfo da Finlândia e, sob o pretexto de promover uma "cruzada para converter os pagãos bálticos ao cristianismo" devidamente endossada pelo Papa, marchou para o norte na primavera de 1240 varrendo a ferro e fogo toda e qualquer oposição.
IV
OS CAVALEIROS TEUTÔNICOS TENTAM EXPANDIR O SEU
IMPÉRIO E INVADEM A RÚSSIA
IMPÉRIO E INVADEM A RÚSSIA
Até então as guerras da Ordem tinham motivação aparentemente religiosa, alegando combater para submeter e converter pagãos ao cristianismo, porém um ano após iniciada sua ofensiva rumo ao norte os seus batalhões conquistaram a Letônia, na época chamada de Livônia, e infletiram para o leste, invadindo o ducado russo de Novgorod, governado pelo devoto príncipe cristão-ortodoxo Alexandre Nevski. Isto deixou claro que o seu alegado propósito de natureza religiosa era apenas pretexto para cruel guerra de conquista e rapinagem desenfreada de outros povos, fossem eles pagãos ou cristãos.
O príncipe russo Alexandre Nevski foi o primeiro general que infligiu enorme derrota aos poderosos Cavaleiros Teutônicos. Cena do filme de Eisenstein "Os Cavaleiros de Ferro"
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Após derrotarem os russos nos combates iniciais, os cavaleiros ocuparam a cidade de Pskov e implantaram cruel regime de terror, tal como já tinham feito anos antes na Transilvânia e mais recentemente na Lituânia e na Letônia. Os seus métodos eram terríveis e tinham por finalidade aterrorizar o inimigo que buscavam subjugar definitivamente, o que fazia os seus feitos atrozes serem comentados de boca em boca e lhes conferiam a pouco invejável fama de "agentes do demônio". Entre as suas muitas façanhas nesses anos de guerra feroz estava o de reintroduzir a escravidão no nordeste da Europa, pois faziam das regiões conquistadas feudos de sua propriedade e aboliam os direitos dos servos, fazendo-os voltar à condição de escravos sob a alegação de que “pagãos” e “hereges ortodoxos” não possuíam direitos. Muitas vezes deslocavam populações inteiras de regiões cuja exploração lhes parecia antieconômica para outras mais rentáveis, porém carentes de mão de obra. Assim, incendiavam vilas inteiras e deportavam os habitantes para os seus feudos onde eles eram mais necessários.
Outra de suas cruéis façanhas era quebrar o espírito de resistência dos povos dominados com absurdos autos de fé, nos quais prisioneiros e clérigos ortodoxos eram torturados e levados à fogueira. Embora não se saiba ao certo se verdade ou mentira, dizia-se que até mesmo velhos e crianças, inaptos para o trabalho, eram queimados vivos pelos “Cavaleiros de Ferro”, nome como eram eles chamados pelo povo aterrorizado.
Uma singular característica contribuía ainda mais para o terror que a Ordem inspirava: o exclusivismo étnico! Ao contrário das demais Ordens religiosas militares medievais, que fiéis ao universalismo cristão aceitavam em seus quadros guerreiros das mais diversas nacionalidades, a Ordem da Casa de Santa Maria somente aceitava candidatos etnicamente teutônicos, dizendo que se assim não fosse a Ordem deixaria de ser "dos teutônicos". Isso por um lado lhe dava coesão e fortaleza, mas por outro a tornava exclusivista e lhe dava o anti-cristão sentimento de superioridade étnica sobre os povos dominados, fazendo-a ainda mais cruel e indiferente ao sofrimento dos não teutônicos. O fato de adicionar o terror político e racial ao terror religioso e militar talvez explique por que ao aderir séculos depois à Reforma Protestante ela não conseguiu levar consigo outros povos do leste europeu, como os poloneses, os tchecos e os eslovacos. Quase como se fora uma resposta étnica ao exclusivismo prussiano, estes povos eslavos rejeitaram o protestantismo e se tornaram ainda mais católicos do que eram antes.
Ao ocuparem a cidade russa de Pskov os Cavaleiros Teutônicos fizeram absurdos autos-de-fé, executando líderes da resistência e clérigos ortodoxos para aterrorizar o povo. Cena do filme de Eisenstein
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Outra de suas cruéis façanhas era quebrar o espírito de resistência dos povos dominados com absurdos autos de fé, nos quais prisioneiros e clérigos ortodoxos eram torturados e levados à fogueira. Embora não se saiba ao certo se verdade ou mentira, dizia-se que até mesmo velhos e crianças, inaptos para o trabalho, eram queimados vivos pelos “Cavaleiros de Ferro”, nome como eram eles chamados pelo povo aterrorizado.
Pskov foi quem mais sofreu com os absurdos autos de fé promovidos pela brutal ocupação Teutônica |
Uma singular característica contribuía ainda mais para o terror que a Ordem inspirava: o exclusivismo étnico! Ao contrário das demais Ordens religiosas militares medievais, que fiéis ao universalismo cristão aceitavam em seus quadros guerreiros das mais diversas nacionalidades, a Ordem da Casa de Santa Maria somente aceitava candidatos etnicamente teutônicos, dizendo que se assim não fosse a Ordem deixaria de ser "dos teutônicos". Isso por um lado lhe dava coesão e fortaleza, mas por outro a tornava exclusivista e lhe dava o anti-cristão sentimento de superioridade étnica sobre os povos dominados, fazendo-a ainda mais cruel e indiferente ao sofrimento dos não teutônicos. O fato de adicionar o terror político e racial ao terror religioso e militar talvez explique por que ao aderir séculos depois à Reforma Protestante ela não conseguiu levar consigo outros povos do leste europeu, como os poloneses, os tchecos e os eslovacos. Quase como se fora uma resposta étnica ao exclusivismo prussiano, estes povos eslavos rejeitaram o protestantismo e se tornaram ainda mais católicos do que eram antes.
Dizia-se que os Cavaleiros Teutônicos queimavam crianças russas na fogueira para aterrorizar o povo e
melhor dominá-lo, mas é possível que fosse apenas boato. Cena do filme "Alexandre Nevski"
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Porém, fossem quais fossem os motivos inspiradores dos métodos da Ordem, eles eram bastante eficazes, pois o terror espalhou-se na Rússia e o príncipe Alexandre Nevski viu-se às voltas com o pânico generalizado dos seus súditos, que largavam tudo e fugiam para lugares que julgavam mais seguros. Isto fez com que ele tivesse grande dificuldade em mobilizar um exército minimamente capaz de oferecer batalha ao invasor com alguma chance de êxito, pois suas tropas, embora numericamente muito superiores, não dispunham nem da sua excelente técnica de combate nem das suas ótimas armaduras e espadas, segredos da invencibilidade dos Cavaleiros Teutônicos.
O príncipe Alexandre Nevski já os combatera e sabia que não teria chances contra eles em uma batalha clássica, mesmo tendo muito mais soldados. Cena do filme de Eisenstein
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O seu número sempre fora pequeno e nunca passara de três mil, divididos em uma dúzia de batalhões de em média duzentos e cinquenta cavaleiros cada um, mas o seu ótimo comando tático, excelente treino, férrea disciplina e primoroso armamento os capacitavam a vencer exércitos dez vezes maiores de desorganizados camponeses sem comando adequado. Pode-se dizer que eles possuíam o melhor e mais bem armado exército europeu da época, pois os grandes recursos da Ordem eram empregados basicamente em treinamento e armas, sobretudo em sofisticadas armaduras para cavalos e cavaleiros. Claro que o número médio de três mil homens refere-se apenas aos cavaleiros consagrados, não incluindo o outro tanto de mercenários bem armados que quase sempre combatiam a pé. Estas tropas de infantaria geralmente ficavam na retaguarda e só intervinham na batalha após a cavalaria destroçar a linha inimiga. Quando o trabalho dos cavaleiros terminava, os mercenários avançavam e massacravam o que sobrara dela.
Porém o armamento dos mercenários era de tão boa qualidade quanto o dos cavaleiros, sobretudo as armaduras. Estas podiam ser mais grossas que suas congêneres europeias do sul graças ao clima muito mais frio da região onde lutavam e à estatura mais robusta dos nórdicos, tanto de homens como de cavalos. Elas eram menos incômodas e protegiam melhor infantes e cavaleiros, tornando apropriado o apelido de “Cavaleiros de Ferro” que lhes davam as populações em pânico.
Investimentos pesados em armas, armaduras, escudos e treinamento intensivo deram aos Cavaleiros
Teutônicos enorme superioridade bélica sobre os seus adversários
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Porém o armamento dos mercenários era de tão boa qualidade quanto o dos cavaleiros, sobretudo as armaduras. Estas podiam ser mais grossas que suas congêneres europeias do sul graças ao clima muito mais frio da região onde lutavam e à estatura mais robusta dos nórdicos, tanto de homens como de cavalos. Elas eram menos incômodas e protegiam melhor infantes e cavaleiros, tornando apropriado o apelido de “Cavaleiros de Ferro” que lhes davam as populações em pânico.
A moderna tática de atacar em massa com a cavalaria blindada apenas um ponto da linha de infantaria inimiga lhes permitia penetrá-la como um raio, dispersá-la e cercá-la pela retaguarda, destruindo-a completamente ainda que lhe fosse dez vezes superior em número de combatentes. Essa tática pensada de batalha, que hoje seria chamada de "guerra relâmpago", era desconhecida das indisciplinadas hordas de guerreiros nórdicos, o que permitia aos Teutônicos infligir-lhes enormes derrotas com apenas umas poucas centenas de cavaleiros couraçados.
Nevski já testara o poderio dos Cavaleiros Teutônicos emboscando alguns dos seus destacamentos menores e tendo depois que recuar face à flagrante superioridade técnica e tática dos invasores, embora sempre estivessem em menor número. Diante dos insucessos localizados, ele viu que mais cedo ou mais tarde teria que lançar todo o seu exército ao combate em uma grande batalha que decidiria o destino do principado de Novgorod. Não tendo suas tropas treino adequado nem, muito menos, armas e armaduras que se comparassem às dos temíveis invasores, ele sabia que seria inútil usar flechas e lanças contra os cavalos e cavaleiros inimigos pesadamente blindados e que, mesmo contando com grande superioridade numérica, só poderia vencê-los pela astúcia. E foi o que fez.
O inverno de 1241-42 lhe deu uma trégua, mas ainda em fevereiro os teutônicos reiniciaram suas operações e ele concluiu que teria de vencê-los no início da primavera ou perder tudo. O inverno terminava no final de março, mas no noroeste da Rússia o degelo só começava em meados de abril, embora as placas de gelo que cobriam rios e lagos afinassem a partir do início do mês. Com muita perspicácia, calculou que até o meado do mês elas ainda seriam bastante fortes para suportar o peso de homens portando armas leves, mas não para suportar o peso da infantaria russa acrescida da pesada cavalaria couraçada teutônica caso ela atacasse em massa. Se o fizesse, como sempre fazia, o gelo se quebraria e os russos com armadura leve alcançariam facilmente a margem próxima, mas isso seria impossível aos cavaleiros teutônicos vestindo pesadas couraças.
Os russos eram superiores em número, mas inferiores em técnica militar e equipamento bélico |
Nevski já testara o poderio dos Cavaleiros Teutônicos emboscando alguns dos seus destacamentos menores e tendo depois que recuar face à flagrante superioridade técnica e tática dos invasores, embora sempre estivessem em menor número. Diante dos insucessos localizados, ele viu que mais cedo ou mais tarde teria que lançar todo o seu exército ao combate em uma grande batalha que decidiria o destino do principado de Novgorod. Não tendo suas tropas treino adequado nem, muito menos, armas e armaduras que se comparassem às dos temíveis invasores, ele sabia que seria inútil usar flechas e lanças contra os cavalos e cavaleiros inimigos pesadamente blindados e que, mesmo contando com grande superioridade numérica, só poderia vencê-los pela astúcia. E foi o que fez.
V
A BATALHA DO LAGO GELADO
O inverno de 1241-42 lhe deu uma trégua, mas ainda em fevereiro os teutônicos reiniciaram suas operações e ele concluiu que teria de vencê-los no início da primavera ou perder tudo. O inverno terminava no final de março, mas no noroeste da Rússia o degelo só começava em meados de abril, embora as placas de gelo que cobriam rios e lagos afinassem a partir do início do mês. Com muita perspicácia, calculou que até o meado do mês elas ainda seriam bastante fortes para suportar o peso de homens portando armas leves, mas não para suportar o peso da infantaria russa acrescida da pesada cavalaria couraçada teutônica caso ela atacasse em massa. Se o fizesse, como sempre fazia, o gelo se quebraria e os russos com armadura leve alcançariam facilmente a margem próxima, mas isso seria impossível aos cavaleiros teutônicos vestindo pesadas couraças.
Durante semanas Alexandre Nevski e o seu estado-maior esperaram a hora certa para a batalha vendo a
devastação que os Cavaleiros Teutônicos faziam em sua terra. Cena do filme de Eisenstein
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Com o plano pronto após discuti-lo em detalhe com o seu estado-maior, o príncipe russo escolheu lugar apropriado nas margens do lago Peipus para a batalha que planejara. Durante semanas negaceou e driblou o inimigo com pequenas escaramuças para espicaçar sua imensa arrogância e atraí-lo para onde queria, fazendo-o aproximar-se cada vez mais do local da armadilha enquanto esperava o momento decisivo.
Por fim, posicionou no momento certo suas bem orientadas tropas sobre as margens do lago gelado e para lá habilmente atraiu o inimigo. Este se jogou na batalha com o ímpeto que já lhe dera inúmeras vitórias, atacando em forma de flecha para romper a linha adversária num ponto determinado e depois envolvê-la por trás, cercando-a e aniquilando-a. Os russos ficaram firmes esperando a temível onda de cavaleiros aproximar-se veloz e ao sinal combinado correram para os lados, dando-lhes passagem na hora exata. Impossibilitada de frear pela velocidade em que vinha, e sem entender direito o que se passava, a cavalaria teutônica adentrou a superfície do lago em carga avassaladora fazendo o gelo quebrar e centenas de cavaleiros se afogarem, tal como Nevski previra. O golpe de misericórdia foi dado pelas pontas da linha russa de batalha, que rapidamente se adiantaram e fecharam-se em tenaz sobre a retaguarda inimiga, espancando a traseira dos cavalos que vinham em furioso galope e impedindo-os de frear, fazendo com que também caíssem nas águas geladas onde tiveram o mesmo destino.
Habilmente o príncipe russo atraiu os Cavaleiros Teutônicos para a armadilha. Na série "Guerra nas
Estrelas" é flagrante a semelhança de Lord Vader com o líder teutônico do filme de Eisenstein
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Por fim, posicionou no momento certo suas bem orientadas tropas sobre as margens do lago gelado e para lá habilmente atraiu o inimigo. Este se jogou na batalha com o ímpeto que já lhe dera inúmeras vitórias, atacando em forma de flecha para romper a linha adversária num ponto determinado e depois envolvê-la por trás, cercando-a e aniquilando-a. Os russos ficaram firmes esperando a temível onda de cavaleiros aproximar-se veloz e ao sinal combinado correram para os lados, dando-lhes passagem na hora exata. Impossibilitada de frear pela velocidade em que vinha, e sem entender direito o que se passava, a cavalaria teutônica adentrou a superfície do lago em carga avassaladora fazendo o gelo quebrar e centenas de cavaleiros se afogarem, tal como Nevski previra. O golpe de misericórdia foi dado pelas pontas da linha russa de batalha, que rapidamente se adiantaram e fecharam-se em tenaz sobre a retaguarda inimiga, espancando a traseira dos cavalos que vinham em furioso galope e impedindo-os de frear, fazendo com que também caíssem nas águas geladas onde tiveram o mesmo destino.
A superfície gelada do lago Peipus rompeu-se e centenas de cavaleiros teutônicos afogaram-se
com seus cavalos. Cena do filme "Alexandre Nevski e os Cavaleiros de Ferro"
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Ao contrário da mortandade registrada entre os cavaleiros teutônicos na batalha do lago gelado, quase todos os russos escaparam do ataque da cavalaria e suas grandes perdas se deram quando atacaram e aniquilaram a infantaria inimiga após os cavaleiros afogarem-se, mas não se sabe quantos russos nela lutaram, calculando-se o seu número entre quatro e cinco mil. Também não se sabe quantos cavaleiros combateram e pereceram, mas julga-se que eram cerca de cinco batalhões somando pouco mais de mil e duzentos homens, dos quais parece não ter havido sobreviventes, pois mesmo os que se desviaram a tempo da armadilha foram derrubados dos cavalos a pauladas e mortos a facadas pelos camponeses furiosos, mostrando que a cavalaria é arma de guerra fragílima quando é detida e os cavaleiros são cercados e agarrados por grande número de guerreiros a pé.
A derrota na batalha do lago gelado afastou os Teutônicos da Rússia mas eles continuaram se expandindo
e dominaram todos os chamados países bálticos. Cena do filme de Eisenstein
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Devido à falta de registros confiáveis, até hoje discute-se o número de cavaleiros mortos na batalha, uns afirmando que eram bem mais e outros bem menos, alguns chegando a dizer que não passavam de quinhentos. Todavia é difícil acreditar que militares experientes como os Teutônicos pudessem cometer a estupidez de se lançarem na imensidão da Rússia com tão poucos combatentes, por melhores que fossem. O número de mil e duzentos é o mais provável porque os registros dizem terem eles desfechado sua ofensiva deixando dois batalhões em suas bases e avançando com dez, o que significa aproximadamente dois mil e quinhentos cavaleiros. Dizem também que após entregarem a guarda das terras conquistadas a padres e mercenários prosseguiam sua marcha, tudo indicando que na Letônia se dividiram em duas colunas com cerca de mil e duzentos homens cada uma, embora disso não haja registro. Todavia a lógica sugere que tendo a primeira coluna avançado para o norte sobre a Estônia, que veio posteriormente a conquistar, e a segunda para o leste sobre a Rússia, esta teria sido a coluna destruída na batalha. Portanto, o número de mil e duzentos cavaleiros mortos no lago Peipus é bastante razoável face aos elementos históricos de que dispomos. Entre os mortos teutônicos não estão computados os mercenários que constituiam a infantaria do exército invasor e que se posicionavam atrás da cavalaria, só avançando após esta dispersar a linha adversária, mas não é exagerado pensar que igualassem o número de cavaleiros, ou seja, mil e duzentos. Destruída a cavalaria, a infantaria ficou só no campo de batalha para enfrentar os russos muito mais numerosos e foi igualmente massacrada.
A muito mais numerosa infantaria russa esmagou a infantaria teutônica após o lago gelado "engolir" a
sua poderosa cavalaria. Cena do filme de Eisenstein
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O número de mortos deve ter ficado em torno de dois mil para cada lado, com a diferença de que do lado teutônico estava toda a sua esplêndida cavalaria, até então considerada invencível. Mas qualquer que tenha sido o número de teutônicos mortos na batalha, a derrota teve efeito arrasador sobre o moral da Ordem, pois ela jamais tentou novamente invadir a Rússia depois da catástrofe, na qual é correto supor ter perdido um terço dos seus efetivos. Assim, os seus batalhões restantes pararam na Letônia e na Estônia, abandonando projetos de novas conquistas ao norte, mas continuaram a exercer férreo controle das regiões já dominadas, acumulando enorme riqueza e prestígio político mesmo perdendo completamente o pouco que lhes restava do antigo apelo religioso, essencial às ordens militares medievais.
VI
GRANDEZA E DECADÊNCIA DO IMPÉRIO
DOS CAVALEIROS TEUTÔNICOS
A derrota nas margens do lago Peipus fez os Cavaleiros Teutônicos retirarem-se do território russo e os enfraqueceu bastante, mas eles logo se recuperaram e acresceram ao seu domínio na Lituânia também o domínio da Letônia e da Estônia. Não satisfeitos, ocuparam as ilhas do mar Báltico próximas ao seu litoral leste e avançaram a oeste sobre a Prússia Ocidental, anexando a Pomerânia. Por fim, expandiram-se para o sul, adquirindo vastos feudos na Saxônia, Tchecoslováquia e Áustria. Meio século após a humilhante derrota frente aos russos, eles eram agora donos do maior império do leste europeu e tornaram-se parceiros do Sacro Império Romano-Germânico.
Com o fim do fervor religioso que a criara e sua metamorfose em poderoso império, a Ordem tornou-se um poder temporal como outro qualquer e adquiriu seus mesmos vícios, envolvendo-se nos conflitos militares apenas por razões políticas e econômicas. Aos poucos ser sagrado cavaleiro teutônico virou honraria almejada pelos membros das famílias principescas do leste e a incômoda tarefa de guerrear, não para expandir a fé, mas para aumentar riqueza e poder, foi deixada aos mercenários, limitando-se os cavaleiros à comandá-las de confortável ponto na retaguarda, tal como fariam todas as cabeças coroadas europeias a partir do fim da Idade Média. Sempre intervindo nos negócios do leste europeu com suas tropas mercenárias comandadas por hábeis cavaleiros versados em tática e estratégia militares, a Ordem Teutônica tornou-se rival e acerba inimiga da coroa polonesa, mordendo a mão que a acolhera e alimentara no seu alvorecer nórdico. Cada vez mais forte após recuperar-se da desastrosa batalha do lago Peipus contra os russos, ela continuou a desfrutar de enorme poder por mais de século e meio, até ser esmagada por coalizão de poloneses e lituanos na batalha de Tannemberg em 1410.
Império dos Cavaleiros Teutônicos na segunda metade do século XIII. Mas o seu apogeu somente ocorreu
no século XIV, quando dominaram também a Prússia Ocidental e uniram as duas Prússias
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Com o fim do fervor religioso que a criara e sua metamorfose em poderoso império, a Ordem tornou-se um poder temporal como outro qualquer e adquiriu seus mesmos vícios, envolvendo-se nos conflitos militares apenas por razões políticas e econômicas. Aos poucos ser sagrado cavaleiro teutônico virou honraria almejada pelos membros das famílias principescas do leste e a incômoda tarefa de guerrear, não para expandir a fé, mas para aumentar riqueza e poder, foi deixada aos mercenários, limitando-se os cavaleiros à comandá-las de confortável ponto na retaguarda, tal como fariam todas as cabeças coroadas europeias a partir do fim da Idade Média. Sempre intervindo nos negócios do leste europeu com suas tropas mercenárias comandadas por hábeis cavaleiros versados em tática e estratégia militares, a Ordem Teutônica tornou-se rival e acerba inimiga da coroa polonesa, mordendo a mão que a acolhera e alimentara no seu alvorecer nórdico. Cada vez mais forte após recuperar-se da desastrosa batalha do lago Peipus contra os russos, ela continuou a desfrutar de enorme poder por mais de século e meio, até ser esmagada por coalizão de poloneses e lituanos na batalha de Tannemberg em 1410.
Em 1410 os Cavaleiros Teutônicos foram esmagados pelos poloneses coligados com os
lituanos na batalha de Tannemberg. Tela de Jan Matejko (séc. XIX)
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Após a derrota a Ordem perdeu não só força e prestígio, mas também o pleno domínio da Prussia Oriental, a qual virou ducado vassalo do rei da Polônia, dando-se início ao lento desmembramento do seu império. Mas ela fortaleceu-se na Prussia Ocidental e em 1525 as duas Prussias foram unificadas de novo quando o rei Albrecht Hohenzollern obteve do rei Sigismund da Polônia sua elevação a príncipe feudatário do ducado da Prússia Oriental. Para isso lhe pagaria vassalagem anual, mas seria o soberano de fato e de direito das duas Prússias, de uma a título de rei e da outra a título de duque vassalo do rei da Polônia, tais eram as peculiaridades do direito feudal europeu.
Em 1410 o império da Ordem Teutônica chegou à sua máxima extensão e era um dos maiores da Europa, mas
os polacos-lituanos o abateram na batalha de Tannemberg e ele entrou em decadência
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Com os novos arranjos políticos a Ordem deixou de existir na prática como pessoa jurídica autônoma de direito público e tornou-se entidade meramente simbólica. Para o seu declínio e gradual desaparecimento muito contribuiu o fato de que, dentre todas as ordens militares medievais, ela fosse a única a utilizar-se largamente de mercenários, coisa que outras ordens de grande prestígio, como os Templários e os Hospitalários, jamais fizeram por terem candidatos de sobra aos seus quadros. Todavia, o escasso ardor religioso que movia os Teutônicos lhes tornava difícil o recrutamento de jovens bravos e devotos da nobreza, os quais não viam razões éticas para colocarem o seu idealismo a serviço de uma organização que se afastara dos ideais espirituais motivadores da sua criação para se dedicar totalmente à conquista de bens materiais. Isto fez com que em meados do século XV o número de seus cavaleiros-membros tivesse se reduzido a cerca de quinhentos e no final do século fosse ainda menor, sem contar que eram em sua maioria aristocratas oportunistas sem fortuna que viam na Ordem apenas meio de obter glória e riqueza.
Assim, para manter seguras suas imensas possessões e continuar travando suas guerras destituídas de conteúdo religioso, ela era obrigada a recorrer a tropas de aventureiros assalariados, cabendo aos seus poucos cavaleiros apenas os postos de administração dos quartéis e de comando dos batalhões. Suas tropas mercenárias eram valentes, eficientes e bem treinadas, mas estavam sempre dispostas a trocar de lado caso lhe oferecessem mais, disto se aproveitando os seus adversários para reduzir-lhe o poder combativo e derrotá-la em momentos decisivos.
VII
O FIM DO IMPÉRIO DA ORDEM DOS CAVALEIROS TEUTÔNICOS
COMO POTÊNCIA POLÍTICA E MILITAR
Em 1525, o grão-mestre teutônico Albrecht Hohenzolern aderiu à Reforma Religiosa e tornou-se um dos mais poderosos príncipes protestantes da Europa, dando decisivo impulso ao movimento reformista por governar diretamente a Prússia Ocidental, até então apenas uma província da Ordem, porém a maior e mais rica de todas. Há séculos o poderoso grão-mestre deixara de ser um monge-guerreiro e tornara-se um príncipe secular com nível de duque, o que muito facilitou ao titular do cargo na difícil época da Reforma fazer-se coroar rei do país que governava e dar início a dinastia dos Hohenzolern, os quais seriam promovidos a imperadores da Alemanha no século XIX.
Com a derrota de Tannemberg a Prussia Oriental ficou sob a suserania do Rei da Polônia como
ducado vassalo, mas a Ordem manteve sua independência na Prussia Ocidental
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Logo em seguida ele obteve do rei Sigismundo da Polônia a devolução da Prussia Oriental a título de ducado feudatário e o novo reino se tornou quase tão poderoso quanto durante o apogeu da Ordem Teutônica no século XIV, o que deu enorme força ao movimento reformista. Mas apesar da adesão maciça das províncias teutônicas do norte ao credo luterano, as províncias do sul romperam com o Grão-Mestrado protestante e permaneceram católicas, estabelecendo nova sede em Viena e colocando-se sob a proteção do Sacro Império Romano-Germânico. Isto as fez proclamarem-se “única e verdadeira Ordem dos Cavaleiros Teutônicos”, porém representavam menos de um quinto dos seus efetivos e propriedades, o que lhes retirou significado e importância maiores. Dessa forma, enquanto no norte a Ordem era absorvida pelo Estado Prussiano e tornava-se Ordem Militar Honorária, no sul ela era absorvida pela Igreja Católica e tornava-se ordem religiosa igual às demais.
No início do século XIX o imperador Napoleão Bonaparte derrotou a coalizão austro-prussiana e, tal como já fizera na França, exigiu que os monarcas vencidos abolissem em seus territórios as ordens religiosas militares. O resultado foi a legal extinção tanto do ramo católico austríaco como do ramo protestante alemão da “Ordem dos Cavaleiros Teutônicos”. Porém, após a queda do império napoleônico em 1815, ela foi restaurada e subsistiu com idas e vindas até ser novamente extinta pelos revolucionários que aboliram os impérios austríaco e alemão no final da Primeira Guerra Mundial. Em 1931 o Papa Pio XI corretamente a restaurou como ordem estritamente religiosa com finalidades assistenciais, mas em 1938 ela sofreu suprema injúria quando o enlouquecido ditador Adolfo Hitler a transformou numa espécie de “ordem maçônica” de caráter cabalístico, ligada às aterrorizantes tropas SS, apelidadas de "morte negra" por usarem uniforme preto e uma caveira no quepe. Sob a liderança do sórdido Henrich Himmler, chefe das SS, rituais pagãos e insensatas sessões de ocultismo passaram a ser realizados secretamente no Castelo de Marienburg com o mistificador propósito de "revitalizar" um nunca existente "antigo espírito teutônico da Ordem". A absurda mistificação prosseguiu até o final da Segunda Guerra Mundial, quando só então a "ordem apócrifa" desapareceu junto com os seus repulsivos mentores.
Finalmente, em 1947 o Papa Pio XII a restaurou nos termos corretos em que o fizera o seu antecessor dezesseis anos antes e desde então a "Ordem da Casa de Santa Maria dos Combatentes Teutônicos” tem sua sede em Viena e presta bons serviços assistenciais, mas para evitar atrozes equívocos e sórdidas mistificações só podem dela fazer parte e atuar nos seus trabalhos membros do clero católico expressamente convidados.
Os nazistas elegeram os Cavaleiros Teutônicos símbolos do poder alemão
tolhido por sinistros inimigos. Cartaz de propaganda do NSDP
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Finalmente, em 1947 o Papa Pio XII a restaurou nos termos corretos em que o fizera o seu antecessor dezesseis anos antes e desde então a "Ordem da Casa de Santa Maria dos Combatentes Teutônicos” tem sua sede em Viena e presta bons serviços assistenciais, mas para evitar atrozes equívocos e sórdidas mistificações só podem dela fazer parte e atuar nos seus trabalhos membros do clero católico expressamente convidados.
Os nazistas recriaram a Ordem dos Cavaleiros Teutônicos como organização ocultista secreta vinculada
às sórdidas SS. Suas sinistras reuniões eram no antigo castelo-sede da Ordem
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Porém a indecente "refundação" da Ordem pelos nazistas, associando-a aos carrascos das SS, trouxe-lhe enormes prejuízos, pois fez os europeus orientais relembrarem não o seu recente passado benemerente, mas o seu antigo passado sombrio, trazendo de volta à memória de suas vítimas históricas todas as crueldades que a Ordem praticara em seus países vários séculos antes. Isto motivou o ditador soviético Joseph Stalin, que já previa a eclosão da II Guerra Mundial, a encomendar ao cineasta Sergei Eisenstein um filme sobre o assunto, mas que servisse de restaurador dos brios patrióticos russos e de propaganda anti-alemã. O resultado foi o filme “Alexandre Nevski e os Cavaleiros de Ferro”, obra-prima cinematográfica hoje incluída entre as mais perfeitas de todos os tempos. O filme é notável não pelo tema, mas pelo excelente roteiro, ótima atuação dos atores, inusitados efeitos especiais, trilha musical primorosa e, sobretudo, pela sua magnífica fotografia em preto e branco. A repercussão e influência do filme têm sido duradouras, pois muitos cineastas nele se inspiraram. O caso mais notável é o do diretor americano George Lucas em seu seriado “Guerra nas Estrelas”, pois lord Vader, o imperador e as tropas do “Império do Mal” são claramente inspirados no Chanceler, no Grão-Mestre e nos Cavaleiros Teutônicos do filme de Sergei Eisenstein. Também é grande no seriado de George Lucas a semelhança do idealismo, bravura e altruísmo dos Cavaleiros Jedi com as virtudes patrióticas do príncipe Alexandre Nevski e dos seus oficiais na obra do diretor russo.
Tudo bem examinado, verifica-se que apesar dos decentes esforços da Igreja Católica a “Ordem da Casa de Santa Maria dos Combatentes Teutônicos” realmente deixou de existir em termos militares, políticos e históricos ainda durante a Reforma Religiosa no século XVI e subsiste apenas como reminiscência de um cruel passado distante.
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