Post nº 16
POR QUE VALENTINIANO III MATOU AÉCIO, ÚLTIMO DOS GRANDES GENERAIS ROMANOS ?
Átila fora a grande ameaça durante o governo de Aécio. Tela de Eugene Delacroix (séc. XIX) |
As afirmações de que os motivos que levaram ao assassinato de Aécio são um mistério e de que a existência de uma ligação amorosa entre o general e a imperatriz Placídia é mais do que uma hipótese, continuam a suscitar debates entre os historiadores até hoje. Em nosso romance histórico Memórias Íntimas de Flavius Marcellus Aetius atribuimos o crime a uma explosão de loucura edipiana do imperador ao descobrir que Aécio e Placídia tinham sido amantes e ele poderia ser filho do ilustre general, coisa que de modo algum está fora de questão, pois a história mostra que pouquíssimos foram os crimes praticados nos recessos das cortes cujos motivos tenham sido unicamente "altas razões de Estado".
A História lida com os fatos e as suas versões, e estas são de três tipos: a versão oficial, a versão alternativa e a versão lógica. Costumamos lidar com as três, mas devemos sempre dar preferência à versão lógica, sobretudo quando as outras são insatisfatórias ou mesmo implausíveis.
No Caso Aécio a versão oficial é a do assassino. Como já vimos nas razões de Aureliano contidas no post anterior, ela é completamente IMPLAUSÍVEL e não merece ser levada em consideração. Portanto, passemos às versões alternativas, que são duas: 1ª) Houve uma grave discussão entre os dois por causa das altas despesas militares: ambos se atracaram e Valentiniano apunhalou Aécio; 2ª) A mesma coisa, só que o motivo da briga foi o imperador acusar o general de querer aproveitar-se do casamento entre os seus filhos para colocar o jovem Gaudêncio no trono logo que o matrimônio se realizasse.
Estas versões alternativas são tão IMPLAUSÍVEIS quanto a versão oficial, porque Valentiniano era um irresponsável que não cuidava da administração e, em um Império continuamente atacado por invasores bárbaros, altas despesas militares eram mais que justificáveis. Quanto ao casamento, ele fora ajustado com este objetivo, pois tendo somente filhas Valentiniano queria ser sucedido por um genro com suficiente respaldo militar para tornar-se futuramente imperador e fazer sua filha imperatriz, gerando-lhe um neto que daria continuidade à sua dinastia. Do ponto de vista político e militar nada mais acertado que este genro fosse o filho do nobre e fiel general que durante décadas garantira a permanência dele e da mãe no trono imperial. Ademais, Aécio jamais poderia ser apunhalado por Valentiniano no caso de uma briga, pois era rijo guerreiro altamente versado nas artes marciais. Apesar de ser vinte e dois anos mais moço, Valentiniano era um bêbado indolente que jamais pusera os pés num campo de batalha e cuja única habilidade era o jogo de azar; mesmo desarmado, Aécio facilmente o dominaria. Assim, ele só poderia pegar o general se ele estivesse desprevenido e de surpresa, como realmente aconteceu.
Verifica-se, portanto, que tanto a versão oficial quanto suas alternativas não se sustentam no que se refere aos motivos e por isso são IMPLAUSÍVEIS.
Resta a versão lógica que adotamos no livro Memórias Íntimas de Flavius Marcellus Aetius.
O maduro general e imperador-adjunto Constâncio morreu quando Valentiniano era criança e por isso ele não deve ter conhecido o pai. Na época, Aécio era um bravo e jovem oficial da alta nobreza militar, filho do prestigioso general Gaudêncio e protegido de Constâncio, que o fizera general aos vinte e poucos anos de idade. Era também afilhado do falecido Alarico, rei dos visigodos que ocupou Roma em 410. Não tendo filhos, ele tratava Aécio como tal e este deve ter conhecido Ataulfo, sobrinho do seu padrinho (alguns dizem que era cunhado e outros que era primo), depois também rei dos visigodos e primeiro marido de Placídia, irmã do imperador Honório. As ligações de Aécio com a família imperial, portanto, datavam de longe e eram bastante estreitas.
O Imperador Valentiniano III assassinou Aécio traiçoeiramente em uma reunião ministerial |
Algum tempo depois da morte de Constâncio ele se tornou ministro da bela imperatriz, agora viúva pela segunda vez e regente do império na menoridade do filho único, o qual ela tratava com desusado carinho mesmo quando já era ele adolescente. Isto criou boatos sobre uma possível relação incestuosa entre mãe e filho, coisa certamente inverídica, mas é provável que o seu exagerado amor maternal tenha mexido com a mente doentia de Valentiniano e causado a tragédia quando, muitos anos depois, ele descobriu a verdadeira natureza da longa e íntima colaboração política entre Aécio e Placídia, já falecida na época do crime.
Os sólidos indícios de uma relação amorosa entre eles, assim como as razões de ter sido a relação mantida oculta pelos dois e pelos devotos historiadores da época, pois Placídia gozava de imenso prestígio religioso e era considerada quase uma "santa" pela Igreja, são assuntos ainda carentes de investigações mais detalhadas devido a pobreza historiográfica do século V.
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