quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Post n° 15

O  ASSASSINATO  DE  AÉCIO -  ÚLTIMO
DOS  GRANDES  GENERAIS  ROMANOS

Retrato idealizado de Aécio (Aetius), cognominado "O Último dos Romanos"


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Em 454 o imperador Valentiniano III assassinou durante uma reunião ministerial o general Flávio Aécio (Flavius Aetius), comandante-em-chefe do exército romano e último baluarte às invasões bárbaras que vinham de todos os lados e destruiriam o Império alguns anos depois. O crime e as perplexidades que ele gerou foram abordados no Diário de um nobre amigo seu no trecho que transcrevo abaixo.


Aécio está morto!

Hoje recebi a terrível notícia do seu assassinato cometido traiçoeiramente pelo imperador Valentiniano, quatro anos após a morte de Placídia e onze meses depois da morte de Átila. É tão absurdo que mal posso acreditar; porém amigos próximos já me tinham advertido dos perigos que cercavam Aécio na corte imperial.

De acordo com o relatório enviado pelo general Clavinus, comandante legionário na Gália, Aécio participava de uma reunião ministerial no palácio e havia terminado o seu relatório sobre a situação militar do império. O imperador felicitou-o pelo excelente trabalho, levantou-se e o abraçou sorridente sob os aplausos dos demais ministros.

Aécio protagonizado por Thomas Todd na ópera "Ezio" (nome italiano de Aécio) de Friedrich Häendel

Aécio estava desarmado, em trajes senatoriais, e quando o falso abraço terminou ele virou-se para agradecer os aplausos recebidos. Aproveitando a oportunidade, Valentiniano sacou um punhal e golpeou seu ministro pelas costas diante dos olhos aterrorizados dos demais. Atingido no coração, Aécio morreu sem saber o que se passava.

Para justificar sua covarde atrocidade, Valentiniano e seus cúmplices emitiram uma declaração dizendo que Aécio planejava um golpe de estado para apoderar-se do trono e vários dos seus amigos e auxiliares foram presos e executados.

A justificativa é absurda porque todos sabem que se Aécio quisesse o trono o teria tomado muitos anos antes, pois teve várias oportunidades para se tornar imperador e delas nunca se aproveitou. Por que iria ele tentar isto agora, já na velhice e às vésperas da aposentadoria? A razão sugerida por um sábio amigo de que Aécio se tornara supérfluo aos interesses da oligarquia romana depois da morte de Átila é insuficiente, porque além dos laços políticos também havia outros fortes laços entre ele e Valentiniano desde os tempos de Placídia, reforçados ano passado pelo noivado da filha mais nova do imperador com o seu filho Gaudêncio.

É bem verdade que enquanto Átila estava vivo ele era indispensável porque era o único general romano capaz de lidar com o rei dos hunos, seu antigo aliado e depois adversário. Afinal de contas, Aécio derrotara Átila duas vezes, tanto durante a invasão da Gália em 451 como da Itália em 452. Ninguém na Europa seria capaz de tal façanha, mas de acordo com a teoria uma vez morto Átila a ameaça desapareceria e Aécio tornar-se-ia dispensável.

De qualquer forma, mesmo com a morte de Átila, outra ameaça continuava presente no sul, pois todos sabem que Genserico, rei dos vândalos, há muito vem se preparando para invadir a Itália partindo de suas bases no norte da África.

A morte de Aécio deixou Roma indefesa e Genserico um ano depois a invadiu e saqueou

Ele não atacara antes devido ao imenso respeito que tinha por Aécio, que o derrotara em 443 quando tentara conquistar a Sicília. Mesmo assim havia fortes rumores de que Genserico estava terminando seus preparativos e logo atacaria novamente, pois em sua opinião o império ficara muito enfraquecido pelas invasões dos hunos e não teria como resistir se fosse alvo de um novo ataque em massa. Somente a forte presença de Aécio no comando do exército romano estaria impedindo o rei vândalo de executar o seu projeto.

Qual o proveito de Valentiniano ao remover este último obstáculo às ambições de Genserico? Do ponto de vista político o covarde assassinato não faz sentido e do ponto de vista militar é uma catástrofe. A absurdidade política e militar do crime é tão evidente que o comentário mais comum na Itália é que Valentiniano agiu como um louco furioso “que decepa a sua mão direita com a sua mão esquerda”!

Portanto, qual poderia ser o verdadeiro motivo de tamanha insanidade? Suspeito que algo muito sórdido se esconde atrás da cena.

Aguardemos o futuro!


(in “Memórias Íntimas de Flavius Marcellus Aetius”)


Nota: Decorridos mais de quinze séculos, os verdadeiros motivos do imperador Valentiniano para o crime continuam sendo um mistério.



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