HELIOGÁBALO – O ADOLESCENTE SODOMITA QUE FOI IMPERADOR E “ESPOSA” DE UM ATLETA DE CIRCO
O imperador Heliogábalo vestia-se, depilava-se e pintava-se como mulher. Também adotava voz e trejeitos femininos, exigindo que tratassem seu amante como seu "marido" e a si próprio como "imperatriz" |
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Ao contrário do que muitos pensam, a antiga Roma não era um antro de maldade e corrupção, e nem todos os
imperadores eram monstros perversos e devassos como Nero e Calígula. Na verdade, estes foram exceção, pois a grande maioria foi de homens sérios e dedicados à
causa pública que trabalharam com zelo, competência e bravura pelo progresso e
bem-estar do Império. Infelizmente as imagens que melhor se fixaram na memória
popular foram as de uns poucos imperadores criminosos e depravados que
anarquizaram a administração, quebraram o Estado e tornaram-se a vergonha do
gênero humano. Entre estes um dos piores foi Heliogábalo, não tanto por seus
crimes, mas por sua devassidão que chega a ser cômica.
Seu verdadeiro nome era Sextus
Avitus Bassianus e pertencia a mais alta aristocracia romana, pois nasceu sobrinho do
imperador Septimius Severus e primo do futuro imperador Caracala, mas sua
riquíssima família tinha origem na Síria e ele próprio nascera na grande cidade
síria de Emesa, hoje Homs, no final do ano de 203 DC. Ainda menino, o ouro dos seus pais
o fez grande sacerdote do deus sol, venerado na cidade sob o nome de “El
Agaballus”, mais tarde latinizado como Heliogabalus. Esta latinização rendeu ao
seu jovem sacerdote o apelido que os romanos lhe deram ao tornar-se imperador.
A família de Heliogábalo era bilionária e a peso de ouro o fez ainda menino grande sacerdote do deus sol da cidade de Emesa, na Síria, onde tinha suas imensas propriedades |
Em 217 DC o seu primo imperador Caracala
foi assassinado e o general Macrinus tomou posse do trono. Uma das suas
primeiras medidas foi mandar de volta à Síria a velha bilionária Julia Maesa,
tia de Caracala e avó de Heliogábalo. Fria, astuta, decidida e cruel, fez
Macrinus arrepender-se amargamente de não tê-la executado assim que chegara ao
poder, pois com sacos de ouro fez a legião local aclamar novo imperador o seu neto
adolescente Heliogábalo de apenas 14 anos de idade. Sempre usando o ouro como
principal arma, ela comprou o apoio das demais legiões vindas para sufocar a
rebelião e sem demora avançou sobre Roma. Isto fez Macrinus se por à frente de
poderoso exército para esmagar os rebeldes, mas na batalha que se seguiu foi
derrotado porque a astuta Júlia Maesa subornara suas tropas e estas o
abandonaram no momento decisivo. Ele conseguiu escapar, mas foi preso e
executado quando tentava chegar a Roma.
Ainda um adolescente, Heliogábalo
viu-se senhor do mundo, podendo-se dizer sem ironia que foi a única vez na
História que uma avó comprou um império para dá-lo de presente ao neto. Claro
que o principal objetivo de Júlia Maesa não era presentear o neto, por mais
querido que ele fosse, mas recuperar o poder que tivera nos
reinados do seu cunhado Severus e do seu sobrinho Caracala. Julgou que isso ocorreria quando Heliogábalo trocasse a toga sacerdotal pela toga imperial, mas frustrou-se ao ver que ele era ingovernável e pouco influiria no seu reinado, o que mais trabalho, perigo e ouro lhe custara.
Logo no início, desprezando os
conselhos da avó e da mãe, ele trouxe de Emesa para Roma o deus estrangeiro de
que era sacerdote e o entronizou no Panteon no lugar de Júpiter, dando-lhe
proeminência sobre os deuses nacionais romanos. Isto chocou os conservadores,
sobretudo porque o novo “rei dos deuses” não tinha forma humana, pois era um enorme
meteoro negro caído na terra há milhões de anos. O povo também se mostrou
descontente, mas ele o conquistou com farta comida e boa bebida distribuídas de
graça nos freqüentes festivais que logo tratou de promover ao seu deus. Nestes
festivais punha a enorme pedra coberta de jóias em cima de carro puxado por
cavalos brancos e desfilava em trajes riquíssimos sentado de costas em um trono
elevado com o olhar fixo no deus. Para completar a maluquice, o suntuoso
cortejo ia pelas ruas de Roma precedido por dezenas de escravos
que polvilhavam o caminho com ouro em pó.
Na procissão do deus sol Heliogábalo fazia todo o percurso sentado de costas e com o olhar fixo em seu deus enquanto escravos iam à frente dos cavalos polvilhando o caminho com ouro em pó |
A absurda extravagância
escandalizou os que ainda tinham alguma consciência porque só um louco jogaria
ouro fora. Com razão, diziam que um imperador dotado de mínima sensatez o aplicaria
em obras públicas, dando emprego à multidão de desocupados que vivia à custa da
caridade do Tesouro e infestava Roma de miséria, crime e sujeira. Mas o povo e
o exército, satisfeitos com a prodigalidade do adolescente enlouquecido pelo
poder absoluto, não deram ouvidos às vozes sensatas e Heliogábalo desembestou
em extravagâncias cada vez maiores, sobretudo de natureza sexual.
Assim que chegara a Roma, sua
família lhe arranjara um casamento de interesse, mas em poucos meses se cansou
da esposa e trocou-a por uma vestal por quem se apaixonara ao vê-la durante
cerimônia religiosa. As vestais eram jovens das altas classes sociais munidas
de deveres sacerdotais e obrigadas a conservarem-se virgens por 30 anos sob
pena de morte. Elas só saiam de sua reclusão para renderem cultos aos deuses e
foi num desses que Heliogábalo a viu e mandou trazê-la à força para o palácio,
onde a desposou. O escândalo foi imenso e houve gerais protestos, inclusive no senado, onde acusações foram oficialmente feitas contra o sacrílego
imperador, mas calaram após vários dos mais notórios acusadores serem presos e executados.
O sacrílego e devasso imperador de apenas 15 anos de idade repudia publicamente a esposa para casar-se com a vestal que raptara |
Em rápida sucessão, casou e
descasou cinco vezes antes de completar 18 anos, mas tudo seria suportado pelo
exército e pelo povo se ele tivesse dedicado um mínimo do seu tempo às suas obrigações militares e administrativas, limitando sua desenfreada
devassidão apenas às mulheres. Mas não foi assim. Como se estivesse possuído
por frenesi erótico, transferiu as obrigações do seu cargo a cortesões
despreparados e corruptos, que cuidaram de enriquecer rapidamente enquanto o
caos reinava, e dedicou-se de corpo e alma a todos os vícios e prazeres
possíveis e imagináveis com escravos, soldados, gladiadores e toda espécie de
homens da mais alta a mais baixa posição social. Para ter o máximo de parceiros
em uma única noite, recrutou prostitutos nas ruas e instituiu campeonato onde o
vencedor seria aquele que atraísse mais fregueses. Para o “jogo”, criou réplica
de ruela da zona do meretrício em ala do palácio que dava para a via pública
e cada um dos contendores ficava na entrada do seu quarto em vestes femininas provocantes, fazendo gestos obscenos, abanando a cortina e tocando o sininho
das meretrizes para chamar a atenção dos passantes, como elas faziam. No fim
da noite se apurava quantos fregueses cada um tivera e quanto ganhara,
aclamando-se o vencedor e dando-lhe o prêmio combinado. Heliogábalo quase
sempre ganhava, donde a suspeita de que seus agentes lhe traziam fregueses já
previamente acertados.
Como se apenas a prática
desenfreada da sodomia não lhe bastasse, passou a vestir-se, depilar-se e pintar-se
como mulher. Também passou a adotar voz e trejeitos femininos da forma mais
escandalosa possível e a referir-se ao seu amante Hiérocles, o belo cocheiro louro de sua carruagem,
como seu “imperador e marido”, exigindo aos demais que tratassem a si próprio
como sua “imperatriz e esposa”. Por fim, fez público oferecimento de enorme
soma ao médico hábil e talentoso que conseguisse lhe implantar órgãos sexuais
femininos a fim de que melhor pudesse cumprir suas obrigações de “esposa” para com
o seu adorado "marido" Hiérocles. Alguns historiadores dizem que a cirurgia foi tentada,
mas dela resultou apenas a amputação dos seus órgãos masculinos, falhando na
criação de um simulacro de vagina, porém é duvidoso que isso tenha realmente
ocorrido. É possível que nos dias atuais Heliogábalo fosse visto apenas como
“travesti” ou “transexual”, todavia os romanos eram menos sutis e passaram a
vê-lo como aberração que precisava urgentemente ser amputada do corpo do
império antes que o gangrenasse.
Ao mesmo tempo em que se
entregava a luxuria mais louca, Heliogábalo exercia tirania brutal, ordenando
não só a prisão e o exílio dos desafetos dos seus capangas, mas também a
tortura e a execução dos que criticassem o seu desvairado comportamento, mesmo
que pertencessem à mais alta aristocracia romana. Vários escaparam por serem
amigos e protegidos de sua mãe ou da sua avó, mas a maioria tombou sob o seu
cutelo e sinistro silêncio pairou sobre a cidade apavorada pela onda de terror, que não se detinha diante de nada e nada poupava. Nem mesmo as festas populares, que ele constantemente promovia em honra do deus sol, com distribuição de comidas e bebidas grátis, disfarçava o opressivo ambiente, mas ele não se importava e passava os dias e as noites em frenéticos festins e bacanais, como se a vida se resumisse a uma permanente e alucinada orgia.
Heliogábalo passava quase todo tempo em frenéticos festins onde fazia cair do teto chuvas de rosas sobre os convidados |
As conspirações pululavam e somente
o exército, a quem dava ótimas gratificações, o mantinha no poder, sobretudo
porque a sodomia era comum entre as tropas e estas a aceitavam sem restrições se o
sodomita fosse “macho”, cumprindo bem o seu dever na hora do combate. Todos os
imperadores, sob cujas ordens os militares tinham servido nos últimos 80 anos, eram homens másculos e corajosos, mesmo quando outras virtudes lhes
faltavam, mas agora viam com acerto que este não era o caso de Heliogábalo, efeminado ao extremo. Ademais,
a tolerância dos militares com a sodomia cessava quando o sodomita
deixava de ser “macho” e agia como “mulherzinha”, semeando o ridículo ao seu
redor e fazendo os seus camaradas duvidarem da sua coragem e do seu valor combativo.
Comportamentos efeminados não eram
tolerados pelo exército em nenhum soldado e muito menos em um imperador, por isso sua situação política se tornou dificílima após o seu público oferecimento de alta soma ao médico que lhe implantasse uma
vagina. Com a irritação a flor da pele, os soldados se indagavam mutuamente sobre o que aconteceria caso tivessem que marchar para a guerra sob o comando
de tal líder e começaram a conspirar. Porém, mesmo com a conspiração em
andamento, o ouro que o ridículo monarca lhes dava em abundância os manteve quietos e nada
aconteceria se não fosse por um dos mais inusitados fatos da história: Heliogábalo
brigou com Hiérocles e para lhe fazer ciúme “casou” vestido de noiva em
cerimônia pública com o seu camareiro e também amante, o atleta de circo Aurélio
Zótico!
Através do seu bom serviço de
informações, a velha bilionária Julia Maesa soube da conspiração e viu que após
mais este escândalo o reinado do seu neto sodomita estava por um fio. Ela fora a única mulher na história do Império a ser eleita para o Senado logo que entrara triunfante em Roma com o neto recém proclamado imperador, mas ao contrário das suas expectativas ela pouco ou nada influíra no governo porque
não havia sobre o que influir. Após passar as rédeas da administração para a
sua desqualificada corja de infames bajuladores, Heliogábalo dedicou-se exclusivamente
às maluquices religiosas e perversões sexuais, fazendo com que o governo
imperial virasse ridícula ficção. A política desapareceu e os corruptos novos
donos do poder, cientes de que o imperador queria distância da mãe e da avó,
com as quais ficara furioso quando elas tentaram incutir-lhe alguma disciplina
e responsabilidade, não deram às duas mulheres nenhuma atenção nem lhes
permitiram intromissões nas suas atividades, dirigidas tão somente ao próprio
enriquecimento. Assim, não sobrou nenhuma área onde a politiqueira Júlia Maesa
pudesse influir. Ela ficou profundamente ofendida e indignada,
passando a odiar o neto ingrato e a querer dele vingar-se, mas como não queria
que o trono imperial saísse da posse da família no caso de queda do imperador
reinante, fez sua filha Júlia Soêmia, mãe de Heliogábalo, conseguir dele, em
nome dos interesses da família, nomear seu primo mais novo Alexandre Severo
co-imperador e sucessor. Ele tinha apenas 13 anos e Heliogábalo mal o
conhecia, por isso, ocupado com suas degradantes bacanais e fantásticos festins, não deu maior atenção ao caso e nomeou o primo por não ver nisso qualquer perigo, mas logo espiões o informaram de que ele agora tinha ao lado do trono não um menino tolo, incapaz de lhe fazer sombra, mas um jovem sério e decente, muito estimado e respeitado pelo povo e pelo exército.
Mergulhado em suntuosos festins e luxuosas bacanais, Heliogábalo custou a perceber a armadilha que a sua implacável avó lhe preparava |
Heliogábalo despertou do seu torpor orgiático e suspeitando que a implacável
Júlia Maesa planejava vingar-se das ofensas sofridas, tirando-o do trono onde
o pusera e substituindo-o pelo outro neto, mandou os seus vis capangas matarem o
adolescente Alexandre, agindo com cuidado para não comprometê-lo. Porém a avó, já prevendo que isso poderia acontecer, o protegera com verdadeiro exército de guarda-costas
e o atentado falhou. Desesperado com o fracasso, tirou a máscara e demitiu o primo, anulando todos os títulos e privilégios que lhe concedera. Isto tornou evidente ao povo e aos militares que ele invejava e odiava o querido príncipe, podendo matá-lo a qualquer momento. A astuta velha viu que o geral sentimento era favorável ao seu segundo neto e contra-atacou fazendo circular o boato de que o
desprezível monarca o matara traiçoeiramente. O boato foi desmentido, mas o
exército rebelou-se exigindo que o torpe imperador apresentasse às tropas Alexandre são e salvo para verem com seus próprios olhos
que Heliogábalo ainda tinha um mínimo de dignidade e não estava mentindo.
Tudo indica que isso foi um
estratagema de Julia Maesa para neutralizar a poderosa guarda imperial que a
peso de ouro protegia o repulsivo tirano dia e noite, pois sua entrada no quartel não
seria permitida e se entrasse seria cercada e desarmada pelos legionários subornados e instruídos. Assim, como previamente acertado, na
manhã de 11 de março de 222 DC as comitivas de Heliogábalo e de Alexandre
encontraram-se na entrada do quartel da legião e foram
autorizados a entrar seguidos apenas de familiares e assessores, ficando de
fora os seus respectivos guardas. Ambos vieram com as suas mães, mas com Alexandre veio também a astuta avó que planejara o Golpe.
No pátio fora montada uma tribuna em frente ao gabinete do general e os dois jovens nela subiram sozinhos para discursarem. Heliogábalo falou
primeiro e o seu discurso foi ouvido do início ao fim em profundo silêncio, mas
quando Alexandre começou a falar a soldadesca o aclamou delirantemente novo
imperador, erguendo as lanças e com elas batendo nos seus escudos. Heliogábalo
desceu da tribuna às pressas e trancou-se com sua mãe na anexa sala do comando onde solicitou
proteção ao general, seu principal sustentáculo até pouco tempo atrás. Este estava tão
envolvido no golpe quanto os outros oficiais, mas teve pena do jovem pervertido e
disse-lhe que devido à fúria dos soldados o único modo dele sair vivo dali era dentro de um baú que seria levado para local de sua escolha.
Depois fugiria para onde quisesse. Em meio aos festejos da aclamação de
Alexandre, todos esqueceram o refugiado Heliogábalo e horas depois, quando o novo imperador já fora
levado em triunfo para o palácio imperial, carroça transportando pesado baú e uma rica senhora envolta em véus saiu do quartel por uma porta lateral e rodou pelas
ruas desertas, pois quase todos tinham ido ao centro da cidade festejar o início do novo reinado.
Heliogábalo tinha apenas 18 anos quando foi deposto e morto pelos soldados revoltados. Após cortarem-lhe a cabeça, seu cadáver foi jogado no rio Tibre para ser comido pelos peixes |
Heliogábalo teria escapado de fim
tão sórdido quanto foi a sua vida se não fosse o acaso, pois a carroça topou com
soldados bêbados que voltavam das festas e eles resolveram saquear o grande baú
da “rica senhora”. Quando o abriram, viram com surpresa que lá estava todo
encolhido e implorando piedade o outrora “senhor do mundo”. Os brutais soldados
o espancaram cruelmente e quando Júlia Soêmia interveio, abraçando-se com o
filho para defendê-lo, também a espancaram e mataram os dois a punhaladas,
cortando-lhes as cabeças e espetando-as em lanças perante a multidão que se
juntara para assistir o tétrico espetáculo. A turba depois arrastou o cadáver
mutilado do decaído imperador pelas ruas até o rio Tibre onde foi jogado
para ser comido pelos peixes, mas respeitou o cadáver da sua mãe. Heliogábalo viveu apenas 18 anos e reinou somente 4, mas
foram os 4 anos de mais completa anarquia, surrealista loucura e frenética
luxúria que o mundo já vira.
Parece que a morte cruel da filha e do neto não estava nos
planos da dura Júlia Maesa e que o ardil para tirá-lo vivo do quartel fora previamente combinado entre ela e o general comandante, mas o acaso interveio e deu-se a tragédia. De qualquer modo, tenha ou não sido de sua autoria o fracassado plano de fuga, ela pôs de lado lágrimas e lamentações e tratou de
concluir a sua obra, executando todos os amantes e capangas do neto ingrato que a
tinham tratado com desdém, entre os quais os notórios sodomitas Hiérocles e
Zótico, “marido” do caricato governante. Embora tendo de fazer algumas concessões à "nova ordem", entre as quais renunciar ao Senado onde sempre fora vedada a presença de mulheres, ela manobrou habilmente e voltou a ter mais poder do que jamais tivera antes. Com maestria, superou todos os obstáculos em seu caminho e, terminada a faxina, resolutamente
dirigiu os primeiros passos de Alexandre na chefia do império, tornando-se o
centro do poder, objetivo que não lograra atingir com Heliogábalo. Para sorte de
Roma, seus interesses resumiam-se à micro-política, tipo troca de favores,
distribuição de cargos, nomeações, demissões, promoções, remoções, obras públicas pedidas por compadres, e por aí vai. Após dar bons assessores a Alexandre, ela deixou nas mãos deles matérias complexas, como legislação, reforma do Estado, organização
militar, estrutura provincial, finanças públicas e relações exteriores, para dedicar-se apenas à
politiquice miúda de que tanto gostava e que exerceu até a sua morte
alguns anos depois. Isto permitiu ao jovem imperador familiarizar-se com
a alta política e cercar-se de ministros corretos e capazes que o ajudaram a
reconstruir os abalados alicerces da sociedade e do império.
O virtuoso imperador Alexandre Severo orando e queimando incenso diante do altar dos deuses |
Simples, sério, culto e
operoso, Alexandre Severo prezava a generosidade, a virtude e a justiça, mandando inscrever no pórtico do palácio imperial em letras bem visíveis: "Fazei aos outros aquilo que quiserdes que vos façam". Apesar de lhe faltarem qualidades de liderança e de não ter talento militar, ele era justo, leal e corajoso, por isso manteve a afeição do povo e o respeito do exército, o que todavia não impediu que anos mais tarde um oficial traidor o matasse para infelicidade geral do Império. Mas enquanto o ingrato final não veio, o jovem e bondoso Alexandre, agindo com exemplar honestidade e correta moderação, conseguiu dar aos romanos decente reinado de paz e prosperidade, em
notável contraponto ao tirânico e infame reinado do seu primo Heliogábalo, o pior, o mais escandaloso
e o mais imoral imperador que Roma teve em toda a sua história.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirFenomenal história Virgilio e muito bem escrita. Alguns reis árabes estão sofrendo também com filhos que se comportam como o Heliogábalo. Na Arábia Saudita, centro do Islamismo, são famosas as festas feitas pelos príncipes regadas de bebidas alcoolicas(que são proibidas no país), drogas pesadas e prostituição. Heliogábalos ainda vivem na modernidade.
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