segunda-feira, 18 de março de 2013

Post nº 68

EUTRÓPIO  -  O  EUNUCO  SODOMITA  QUE  GOVERNOU  O  IMPÉRIO  ROMANO


Pintura em vaso grego da Era Clássica. Em Constantinopla sodomitas ricos pagavam fortunas por belos
escravos eunucos adolescentes. O futuro cônsul Eutrópio foi um desses escravos efeminados. 



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Na crônica política escandalosa do Império Romano, poucos episódios mostram tão bem a sua decadência moral e o apodrecimento das suas instituições como o da ascensão e queda de Eutrópio, ex-escravo eunuco e sodomita que se tornou primeiro-ministro do fraco e indolente Arcádio, imperador romano do Oriente, e obteve a suprema honraria do consulado de Roma.

Na sua origem, era ele jovem escravo nascido na Armênia que, certamente dotado de beleza física e efeminado, foi castrado e vendido em Constantinopla para satisfazer a lascívia de homens ricos dados à prática da pederastia. Este tipo de escravo atingia alto preço no mercado e os traficantes estavam sempre procurando por jovens bonitos que pudessem desempenhar bem as ignóbeis funções e satisfazer os depravados instintos de pervertidos aristocratas, dispostos a pagar caro por eles. O curioso é que o Cristianismo já havia triunfado plenamente, mas até então fora incapaz de por um fim ao sórdido comércio e às práticas torpes que o alimentavam.

Vendido e revendido várias vezes enquanto a mocidade o fazia valioso, Eutrópio chegou à maturidade em companhia do rico pervertido Ptolomeu, que o achando já “gasto” para servir aos seus imundos prazeres, o deu de presente ao seu amigo general Arinteu, que procurava algo da espécie para cuidar da sua filha. A partir daí o seu trabalho deixou de ser o de “objeto sexual” e passou a ser o de “criado doméstico” para serviços especiais da jovem, como dar-lhe banho, pentear-lhe os cabelos, fazer-lhe a maquiagem, embelezá-la, cuidar das suas roupas, vesti-la com seus suntuosos trajes, refrescá-la com o leque nos momentos de calor, tirar-lhe os pelos, fazer-lhe as unhas e outras tarefas do tipo. O já maduro Eutrópio se saiu tão bem nas suas funções que conquistou a amizade da moça e do seu pai, o qual resolveu premiá-lo com a liberdade. 

                  Sodomitas ricos divertem-se com belos jovens escravos próprios para a sodomia comprados
                               a peso de ouro.  Mural na tumba de um rico sodomita grego da época clássica.


Através dos seus patrões, ele conhecera muita gente importante da Corte Imperial e, com boas recomendações, arranjou modesto emprego no palácio, começando por funções subalternas para logo alcançar outras melhores graças às suas requintadas maneiras, estudada hipocrisia e perícia na arte da lisonja e da bajulação.  Seu progresso no serviço doméstico imperial foi rápido e o ano de 395 o encontrou no elevado cargo de camareiro-chefe do imperador Arcádio, jovem recém saído da adolescência cuja falta de inteligência só não era maior do que a sua arrogância e vaidade. Manobrando habilmente entre os cortesãos e explorando ao máximo as falhas de caráter do imperador idiota, Eutrópio adquiriu enorme prestígio político e vastas riquezas, pois todos sabiam que o meio mais rápido de conseguir o atendimento dos seus pleitos era tratando-o com grande deferência e dando-lhe régios presentes. Assim, o influente camareiro tornou-se figura política de primeira grandeza e pulou do seu cargo doméstico para elevado cargo ministerial, do qual se utilizou para solertemente minar a autoridade do impopular primeiro-ministro Rufino. Ao mesmo tempo em que intrigava contra os seus rivais e traía os que nele confiavam, vestia-se luxuosamente, adotava estilo de vida acintoso e acumulava ainda mais riquezas, pois a sua insaciável sede de ouro o fizera evoluir da acintosa corrupção à vil extorsão.


Eutrópio já idoso quando exercia o cargo de Cônsul

A subida ao poder de um ex-escravo, que além de eunuco era sodomita notório, envergonhava os poucos que ainda possuíam decência no permissivo cenário da época, porém o que mais indignava a todos era a sua desmedida ganância e ofensiva arrogância, que não poupava nem mesmo a imperatriz Aelia Eudóxia, beldade de nobreza de segunda classe que tomara sob sua proteção quando solteira. Visando aumentar ainda mais o seu poder, usara de mil artimanhas para que o tolo imperador Arcádio a desposasse, pois assim teria uma agradecida aliada no próprio leito imperial, o que conseguiu quando ele casou com a noiva que o seu “fiel camareiro” lhe arranjara. Mal podia Eutrópio imaginar que estava chocando o ovo da venenosa  serpente que mais tarde lhe daria a picada fatal.

Finalmente, em 395, mesmo ano do casamento de Arcádio e Eudóxia, o odiado primeiro-ministro Rufino foi assassinado em um motim das tropas urdido pelos generais Stilicon, primeiro-ministro do Império do Ocidente, e Gainas, chefe godo a serviço do Império do Oriente. Dizem que ambos contaram com o decidido apoio e colaboração de Eutrópio, pois Rufino era o principal obstáculo para a sua total tomada do poder. Ademais, tudo indica que Rufino era o único no governo para quem Eutrópio perdia em ganância e extorsão, tendo acumulado fortuna maior que a sua. Afirma-se que esta era o tipo de “ofensa” que ele não suportava e o fizera aderir à conspiração, se é que não fora o seu mentor e articulador. De um modo ou de outro, o destino de Rufino deveria tê-lo alertado, porque os soldados não só mataram o primeiro-ministro como o esquartejaram diante do imperador, saindo às ruas estendendo os seus braços decepados para o público com as mãos em posição de quem pede esmolas, referindo-se assim à sua ganância e ao castigo que esperava os seus iguais.

Arcádio era doentio, incompetente e pouco inteligente

Logo Eutrópio tornou-se primeiro-ministro no lugar de Rufino e mais tarde o senado o elegeu cônsul para o anuênio de 399, a mais alta magistratura romana abaixo do imperador. Era a primeira vez que um ex-escravo, que ainda por cima era eunuco e sodomita, ocupava o consulado, outrora objeto de disputa entre os maiores de Roma, como Mário, Pompeu, César e Augusto. A desmoralização não podia ser maior e Honório, imperador do Ocidente, negou-se a reconhecê-lo, ordenando que daí em diante nenhum decreto emanado de Constantinopla vigorasse no Ocidente.

Como fazem todos os tiranos, Eutrópio mantinha bandos de espiões para delatar mínimas infrações dos ricos e assim acusá-los de crimes graves, não tanto para puni-los com o degredo ou a morte, mas para subir no valimento do imbecil Arcádio e conseguir que os bens dos acusados fossem confiscados e a ele adjudicados como prêmio por seus “bons serviços”. Homens importantes, como os generais Abundancio, Timásio e Bargo, foram presos, exilados ou mortos para que o insaciável ministro se apoderasse dos seus bens. Como se não bastasse, intrigou Arcádio com o seu irmão Honório, imperador do Ocidente, e o seu ministro Stilicon, melhor general do Império na época, chegando ao ponto de obter do dócil senado de Constantinopla fosse Stilicon declarado inimigo público e confiscados seus bens no território do Império Oriental. Por fim, fomentou rebelião contra Honório nas províncias da África, que absorveu os esforços de Stilicon e os parcos recursos do Império do Ocidente até ser finalmente debelada.

Traficando com a Justiça e a Administração, roubando o Erário, espoliando as províncias e tomando os bens dos ricos a quem acusava de “traição” ao menor pretexto, Eutrópio tornou-se alvo do ódio geral, mas também da mais sórdida adulação. Esta se excedia erigindo-lhe estátuas de mármore e bronze para exaltar-lhe os talentos civis e militares, pois sua ousadia não tinha limites e agora se apresentava às tropas de armadura e insígnias de general, fato que causava enormes gargalhadas aos militares de verdade. Por fim, obteve o título de patrício e passou a intitular-se “pai do imperador” e “terceiro fundador de Constantinopla”, coisas que certamente desgostaram Arcádio, por mais imbecil que fosse e por mais apreço que tivesse ao seu "eficiente ministro".

Arcádio ocultava sua nulidade atrás do luxo de sua
riquíssima corte de ladrões e sodomitas

Tudo indica que foi a sua arrogância que o fez desentender-se com o general Gainas, seu principal sustentáculo militar, e perder o senso do que era ou não apropriado em uma corte como a de Constantinopla, onde o orgulho e a etiqueta eram tudo e a amizade e a gratidão eram nada. Assim, não só esqueceu o muito que devia ao poderoso general, dono de um exército privado de mercenários godos que o fazia independente até do próprio imperador, como esqueceu que a sua antiga protegida Aelia Eudóxia, gentil e modesta quando solteira, era agora a senhora de uma das mais ricas, poderosas e formalísticas cortes do mundo. Sem perceber o abismo que cavava com os seus próprios pés, Eutrópio insistiu em continuar tratando-a com a mesma antiga familiaridade, fazendo-a afastar-se dele para não parecer indelicada ao ter que repreendê-lo. Não há certeza sobre o que aconteceu, mas há evidências de que em ocasião da qual ela não pôde fugir, ele a tratou com inconveniente intimidade e ela sentiu-se desrespeitada, não mais se contendo e repreendendo-o severamente. Outro que não Eutrópio teria se arrojado aos seus pés suplicando perdão, mas a arrogância de que estava possuído o impediu e trocou palavras ríspidas com a imperatriz. É possível que já viesse falando mal da soberana pelas costas por sua atitude distante e ela disso estivesse informada, de forma que o incidente apenas fez o copo transbordar, fazendo-a queixar-se ao marido de ter sido ultrajada pelo atrevido ministro.

Arcádio imediatamente o afastou do consulado e o demitiu de todas as funções, mandando-o prender pelos muitos crimes de que era acusado. Porém, avisado a tempo pelo seu eficiente “serviço de informações”, buscou asilo na catedral, colocando-se sob a proteção do famoso bispo João Crisóstomo, um dos maiores doutores da Igreja, mais tarde elevado a santo. Na época, as igrejas eram tão invioláveis quanto hoje o são as embaixadas e os soldados não ousaram entrar para prendê-lo, mas a cercaram decididos a esperar até que ele saísse. Nos dias que se seguiram, o respeitado sacerdote, considerado o maior orador sacro da época, fez tocantes sermões tendo diante de si e da congregação o trêmulo e choroso Eutrópio, antes tão poderoso e arrogante, mas agora tão fraco e humilde. Vendo o ódio no rosto dos fiéis pelo maldoso eunuco sodomita, agora prostrado em contrita oração diante do altar, o santo bispo falou sobre a pequeneza da vaidade e a grandeza do perdão, rogando a todos que perdoassem o decaído ministro, até há pouco perverso e temível, mas agora inofensivo e acovardado fugitivo com a cabeça a prêmio.

Graças ao bispo João Crisóstomo, doutor da Igreja e futuro santo, Eutrópio foi anistiado

A razão para Crisóstomo conceder asilo a Eutrópio, e empenhar-se tão a fundo no seu perdão, certamente deve-se ao fato de ter sido ele o verdadeiro autor do decreto de Arcádio mandando transformar os templos pagãos em templos cristãos ou demoli-los nos casos onde isso não fosse possível, pois o decreto foi promulgado em 399 DC, ano em que Eutrópio atingiu o ápice do seu poder ao ser eleito cônsul pelo senado de Constantinopla, embora tenha caído em desgraça pouco antes do término do mandato. Por isso, embora estivesse ciente da brutal perversidade e da imunda corrupção do ex-ministro, o santo bispo sabia que a Igreja tinha uma dívida para com ele, a quem devia outros favores, e resolveu pagá-la com juros.

Devemos todavia frisar que o ato legislativo de Eutrópio, tão caro à Igreja e que a História registra como sendo do imbecil Arcádio, não se deveu aos seus excessos de zelo religioso, pois não os tinha, mas à sua arguta conclusão de que o paganismo acabara e que extinguir de vez os seus vestígios era a natural aspiração da época. Assim, só teria a lucrar politicamente chutando cachorro que já estava morto há tempos, embora o povo e a Igreja ainda não tivessem consciência disso e continuassem a ver nos "diabólicos deuses pagãos" uma ameaça à salvação das almas, em boa hora eliminada pelo "devoto" cônsul Eutrópio.

De qualquer forma, fosse pelos magistrais sermões e esforços diplomáticos do santo bispo, fosse porque o imperador ainda tivesse alguma afeição pelo ex-ministro, chegou-se a um acordo e foi promulgado decreto mantendo o confisco dos seus mal adquiridos bens, mas lhe permitindo viver e circular livremente em Constantinopla a salvo da Justiça. Alguém mais inteligente e menos arrogante teria visto possível armadilha na cláusula, mas como na época “Constantinopla” e “Império Romano do Oriente” significavam a mesma coisa, ninguém viu nada demais, exceto talvez a imperatriz Eudóxia, mulher culta que dizem ter sido a redatora do decreto.

O santo bispo João Crisóstomo ataca a imperatriz Eudóxia pela morte do seu protegido Eutrópio

Livre e possuindo ainda bastante ouro, salvo do confisco por tê-lo posto em lugar seguro, Eutrópio tentou recuperar o terreno perdido, buscando formas de se reaproximar da família imperial, mas seus esforços foram em vão porque o fraco Arcádio não mandava em nada e a decidida Eudóxia assumira as rédeas do poder. Frustrado, enveredou pelo seu bem conhecido caminho da intriga e da conspiração, mas a urdidura da trama exigiu que viajasse a outra cidade e lá foi preso, não porque, como disse a astuta Eudóxia, tivesse ele cometido algum crime, mas porque sua anistia era válida apenas dentro das muralhas de Constantinopla. Estando fora delas, a anistia não tinha efeito e nada impedia que a sentença de morte proferida meses antes fosse cumprida.

Levado rapidamente ao patíbulo, Eutrópio foi decapitado e assim terminou a surpreendente carreira do escravo eunuco e sodomita que durante anos governou o riquíssimo Império Romano do Oriente, personificando um dos mais torpes e mais inacreditáveis governantes que qualquer Estado já teve ao longo da História.          

   

quinta-feira, 14 de março de 2013

Post nº 67

"GENERAL" MAC GREGOR - THE CONMAN WHO INVENTED A GHOST COUNTRY AND  STOLE
MILLIONS IN THE FINANCIAL MARKETS


The French defeat in the Napoleonic Wars caused euphoria in Britain and the financial markets boomed.
Canvas by Phillip James de Loutherbourgh (XIX century)

THE AMAZING HISTORY OF GREGOR MACGREGOR
WHO IN THE XIX CENTURY PULLED OFF THE
GREATEST CONFIDENCE TRICK OF ALL TIME


By the excellent british magazine "The Economist"



Mac Gregor had been borne in a peaceful place of remote Scotland but soon discovered that his true place
was among the frenetical people of the huge London Financial Market




As an adventurer he was in Latin America during the independence wars. When returning
to Britain he said that had fought in a revolutionary army as its "general"


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segunda-feira, 11 de março de 2013


Post nº 66


THE  HOLY  ROMAN  EMPIRE  -  AN  EARLY
  DREAM OF  EUROPEAN  UNION


In 1648 europeans finished the Thirty Years War and everybody was joyful, expecting for a New Era of union,
peace and prosperity in the Continent. Canvas by Van Der Helst (XVII century) 


GOOD ESSAY OF THE BRITISH MAGAZINE THE ECONOMIST
ON THE HOLY ROMAN EMPIRE AND ITS FAILLURE
 IN KEEPING EUROPEAN COUNTRIES TOGETHER  



Charles V, king of Spain (XVI century), was the last truly Holy Roman
Emperor. He used to say: "In my empire there is never sunset"


 
Emperor Charlemagne (IX century) was the inspirer of the
future Holy Roman Empire (X century)


The Holy Roman Emperor Friedrich Barbarossa (XII century)
was the first one worthy the title


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sábado, 9 de março de 2013

Post nº 65

PARAGUAY  WAR  -  THE  LONGEST  AND BLOODIEST  OF  THE  AMERICAS


In 1865 Brazil had the most powerful navy of the Americas, bigger than the US Navy and the third of
the world. The paraguayans had no chance. Canvas by Vitor Meirelles (1882)

EXCELLENT  ESSAY  OF  THE  BRITISH  MAGAZINE
THE  ECONOMIST


Emperor Pedro II of Brazil. Liberal and very intelectual, he was the most 
tough ennemy of the tyrannical dictator Solano Lopez of Paraguay

At the beggining of the war in 1865 the brazilian fleet smashed the paraguayan navy in the battle of Riachuelo
and took control of the River Plate. Canvas by Vitor Meirelles (1870) 

The terrible battle of Avaí in december 1868 was a decisive victory for the allies and killed
the last hopes of Lopez - Canvas by Pedro Americo (1877)



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domingo, 3 de março de 2013

Post nº 64

ÁTILA  -  O  MISTÉRIO  DA  SUNTUOSA  TUMBA
SECRETA  DO  REI  DOS  HUNOS

Átila destruiu dezenas de cidades e matou milhares de civis inocentes, mas morreu na cama
de morte natural e repousa em suntuosa tumba secreta até hoje não descoberta


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Não há dúvidas sobre a causa da morte de Átila, pois o panegírico escrito por seu secretário grego atesta que ele morreu de causas naturais no leito nupcial. O panegírico é pomposo e exagerado, como são os elogios fúnebres dos tiranos, mas é esclarecedor quanto à forma como o famoso rei bárbaro morreu:

“Portanto, aqui dorme Átila, rei dos hunos, senhor e tormento dos dois impérios romanos, que lhe rendiam vassalagem e lhe pagavam pesados tributos anuais, sempre implorando pela sua boa vontade e amizade! O rei que foi também senhor de cem valentes nações da Cítia à Germania, cujos bravos reis se ajoelhavam perante ele e punham aos seus pés as riquezas das suas nações e os seus mais queridos tesouros pessoais! O rei que venceu mil batalhas e nunca perdeu nenhuma! Após vida tão gloriosa morreu feliz, não por causa de ferimentos causados por seus inimigos nem por causa de traição dos seus amigos, mas porque os deuses gentilmente o chamaram para juntar-se a eles no Valhalla! E assim, ele deixou aqueles que lhe eram mais queridos enquanto gozava os mais esplêndidos prazeres da vida, sem dores, recriminações, arrependimentos ou sofrimentos de qualquer espécie”!

Morrera na cama, certamente quando fazia amor com sua bela e ardente esposa germânica, pois da mesma forma que os hunos tinham antes se misturado com os citas, estavam agora se misturando rapidamente com os germânicos, e ele próprio já entrara para o panteão dos seus heróis mitológicos sob o nome de Wetzel.

Os relatos dizem que após cuidadoso trabalho de mumificação, o seu corpo foi vestido com belíssima armadura de ouro e colocado em artístico sarcófago, também de ouro maciço, fato que sugere ter havido providências prévias quanto ao seu futuro funeral. Depois ficou dias em exposição na entrada do seu palácio de madeira e milhares de súditos desfilaram pesarosos perante ele ininterruptamente dia e noite, formando filas intermináveis. No final das cerimônias fúnebres, o rico sarcófago foi colocado dentro de outro de prata trabalhada e este dentro de um de bronze. Em seguida seus mais leais guerreiros o levaram à noite para lugar ignorado e lá o enterraram em túmulo secreto no meio de densas florestas.

Monumento de Átila em Budapeste, onde também existem muitas ruas e avenidas com
                                                            seu nome. Os húngaros o consideram herói nacional

A partir daí nasce o mistério, pois não restou nenhuma notícia do local da tumba, que tudo faz crer devia ser suntuosa e conter riquíssimos tesouros. Em relato original que se perdeu, mas que nos foi transmitido séculos depois por Giordano e Paulo Diácono, o filósofo grego e diplomata bizantino Crispo, que conheceu bem Átila por ter sido embaixador do Imperador de Constantinopla junto à sua corte, diz que ele foi sepultado numa noite de lua cheia em remota caverna, cuja entrada foi depois selada sem deixar qualquer vestígio que pudesse despertar a curiosidade de eventuais passantes, mesmo sendo o lugar absolutamente deserto. Ela teria sido primorosamente preparada e ricamente ornamentada por habilidosos escravos, enganados por promessas de ótimas recompensas. Após a chegada do féretro, eles puseram o pesado e luxuoso esquife no local escolhido, cercado de mobiliário riquíssimo e fabulosos tesouros, selaram a entrada da fenda aberta pela natureza sob os olhos vigilantes dos oficiais de confiança do rei e, depois de concluído o exaustivo e cuidadoso serviço, foram prontamente executados ao invés de receberem a gorda recompensa prometida.

Depois de matar os escravos construtores do túmulo, os leais oficiais de Átila juraram guardar eterno segredo sobre  sua localização, mesmo em face da tortura e da morte, de modo que nenhuma informação sobre ele jamais vazou após regressarem. Crispo especula que ele ficaria próximo a um grande rio, pois os hunos costumavam sepultar seus mortos nas proximidades de cursos d'água, obedecendo a milenar prática religiosa pagã de colocar vasos com comida e bebida ao lado dos cadáveres dos entes queridos para que suas necessidades básicas pudessem ser satisfeitas na longa jornada para a outra vida!

Átila personificado por tenor na ópera de Haendel "Ezio" (Aécio em italiano)


Desde o secreto sepultamento do corpo tem havido muitas hipóteses sobre o seu real paradeiro, inclusive os poucos prováveis monte Isonzo, perto de Tolmino na atual Eslovênia, e a confluência dos rios Murra e Drava na Croácia. Porém o que oferece mais possibilidades é sítio próximo ao curso médio do rio Tibisco na Hungria, porque não é longe do sítio da antiga capital do Império Huno, onde os suntuosos funerais ocorreram. Não obstante ser o monte Isonzo o mais improvável dos lugares cogitados para local do misterioso sepulcro, os eslovenos continuam reivindicando a duvidosa honra de sediá-lo. Até mesmo circula entre eles antiga lenda relatando que alta noite o fantasma de Átila, com as feições do próprio demônio, aparece nos arredores do monte onde estaria o sepulcro, contando montes de moedas de ouro e jóias para certificar-se de que ele não foi violado e o seu tesouro continua intacto.

De qualquer forma, tanto o governo húngaro como inúmeras expedições privadas continuam a buscar sem sucesso “A Tumba de Átila” quase 1.600 anos após sua morte.

             Em 1959 arqueólogos do governo da Hungria descobriram principesca sepultura huna perto do rio Tibisco, na mesma região que se tem como a mais provável para o último local de descanso do célebre Flagelo de Deus, e a notícia de que a sua misteriosa tumba fora finalmente encontrada espalhou-se pelo mundo como um raio. Todavia, cuidadosa perícia pôs em dúvida o acerto da descoberta e ela foi definitivamente descartada quando datação feita por rádiocarbono certificou que o túmulo datava do ano de 415 DC, quase quatro décadas antes da morte de Átila.

O mistério do local onde jaz o seu corpo mumificado, cercado de tesouros e riquíssima decoração, continua a desafiar os caçadores de aventuras.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Post nº 63

ÁTILA  E  O  PAPA  LEÃO  I  -  O  MAIS
MISTERIOSO  ENCONTRO POLÍTICO
DA  HISTÓRIA

Cavaleiros temíveis, os hunos dominaram o leste europeu e ocuparam a Hungria. Em 452 marcharam sobre
Roma e recuaram após misterioso encontro com o Papa Leão I. Tela de Juliuzs Kossak (séc. XIX)



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Ninguém sabe ao certo o que de fato se passou no misterioso encontro entre Átila e o Papa Leão I no norte da Itália em 452, cujo resultado foi o terrível Rei dos Hunos desistir do seu propósito de destruir Roma. Isto foi tão inesperado e inusitado que várias lendas surgiram e falou-se até mesmo em milagre, celebrado em telas e esculturas famosas que mostram São Pedro e São Paulo aparecendo ao lado do Papa e aterrorizando Átila a ponto de fazê-lo dar meia-volta e recuar. Mas evidências esparsas, colhidas em diferentes historiadores, nos permitem reconstituir os fatos e deles tirar uma versão fidedigna e lógica, escoimada do extraordinário e do miraculoso. Segundo essas evidências, o que na realidade ocorreu foi que Átila, após devastar o norte da Itália, decidiu dar o golpe final, forçando Aécio a uma batalha decisiva. Assim, após receber excelente resgate para poupar Milão, marchou sobre Roma em meados de agosto, mas entrou por equívoco em região pantanosa onde seus milhares de cavalos se atolaram e milhões de mosquitos atacaram suas tropas, adoecendo-as gravemente. Só a muito custo conseguiu sair do atoleiro, porém muitos soldados tinham morrido, havia milhares de doentes graves e grande parte dos homens estava debilitada pela febre, de sorte que ele não teve outra opção senão fazer do seu acampamento um enorme hospital e esperar: “Se Aécio atacar agora estamos perdidos”, era o seu mais constante comentário durante as conversas com seus generais.
  
Todavia o general Flávio Aécio, comandante do exército romano, não atacou pela simples razão de que, por mais enfraquecidos que estivessem os hunos, ele não tinha tropas suficientes para fazê-lo. Os cinqüenta mil cavaleiros inimigos sadios ainda eram quase o triplo das tropas de infantaria que ele poderia reunir para uma grande batalha em campo aberto e sabia que um romano a pé teria tanta chance contra três hunos a cavalo quanto um galo teria contra três águias.

Era quase impossível deter os ferozes cavaleiros hunos que avançavam sobre Roma e o Papa Leão I
escolheu negociar com Átila. Tela de Ulpiano Cheka (séc. XIX)

Em meados de setembro Átila ainda estava paralisado no norte da Itália e Aécio vislumbrou uma possibilidade de vitória: “Se ele não avançar agora o outono vai alcançá-lo a caminho de Roma. As pastagens estarão secas e os cavalos não terão o que comer; o mesmo acontecerá com os cavaleiros, pois os campos estão abandonados e não há colheita. Três cavaleiros hunos a pé e famintos não são adversários para um legionário treinado e então teremos a batalha que Átila tanto procura”. O seu aguçado raciocínio militar dizia-lhe que a situação se inverteria totalmente no caso de um avanço huno tardio.

A situação de Átila se tornou ainda pior quando recebeu mensagem do regente que deixara em sua capital comunicando que havia intensa movimentação de tropas do exército romano do oriente na fronteira do leste e que o novo imperador de Constantinopla, substituto do covarde Teodósio II morto dois anos antes, estava planejando atacar o reino huno aproveitando-se da ausência do seu rei.

Átila caíra num impasse! Se avançasse agora conquistaria Roma antes do final de setembro e as ricas terras do sul lhe garantiriam o sustento durante o outono e o inverno, mas só poderia voltar na primavera do próximo ano e nesse intervalo os romanos orientais poderiam atacar, vingando-se das humilhações que ele lhes infligira no passado; se demorasse, teria que marchar, indo ou vindo de Roma, em pleno outono com os cavalos e os homens enfraquecidos. Neste caso os romanos, ainda que em número menor, poderiam enfrentá-lo com vantagem, pois estavam descansados e alimentados, e os cavalos hunos, até agora sua arma decisiva, estariam inutilizados pela fome, deixando os cavaleiros a pé e vulneráveis. Como não tinha condições de avançar agora, Átila vira que uma derrota ocorreria se avançasse mais tarde nem tampouco a evitaria se não avançasse, ficando com o seu imenso exército doente no lugar onde estava. A não ser que recuasse; mas como fazê-lo sem se desmoralizar?

Átila em medalhão romano da época (séc. V)

Foi então que o Papa Leão, líder dos cristãos que ele tanta desprezava, veio em seu socorro, mandando um embaixador para solicitar-lhe um encontro e discutirem o pagamento de um resgate em troca da segurança de Roma. O Papa não entendia nada de estratégia militar nem sabia das dificuldades de Átila, pensando que ele apenas descansava enquanto se preparava para avançar e destruir Roma. Por isso pensara salvar a cidade pagando um grande resgate: “Afinal de contas os hunos não passam de sanguinários salteadores e ouro é a única coisa que lhes interessa”, comentara com seus ministros na reunião secreta em que decidira pedir o encontro com o Flagelo de Deus.

Era a oportunidade que o rei huno esperava para salvar as aparências e justificar perante seus ferozes comandados o inevitável recuo: “O chefe dos cristãos me pede humildemente uma audiência para me prestar vassalagem e combinar o pagamento de um grande tributo”, disse aos seus generais.

A data e o local do encontro foram marcados e Átila ficou ansioso à espera. Porém o Papa Leão, além de corajoso e decidido, era também sábio e prudente. Partiu de Roma no meio da noite com pequena comitiva de clérigos e altos magistrados, inclusive o prefeito de Roma, escoltado por meia centena de soldados da sua guarda pessoal, todos eles de lealdade comprovada e que nada sabiam sobre a data e itinerário da viagem, pois ele tivera o cuidado de deixá-los esperando ordens sem ideia do que iria acontecer. Quanto menor a comitiva e maior o segredo, menor atenção haveria. Levava dúzias de mulas com pesados alforjes cujo conteúdo poucos membros da comitiva conheciam: o enorme tesouro que passaria às mãos de Átila se as negociações tivessem sucesso!

Leão evitou cidades e estradas movimentadas, optando por caminhos secundários que atravessavam campos e vilarejos desertos, pois quase toda a população fugira temendo o iminente avanço dos hunos, e uma semana depois chegou a um mosteiro escondido nas florestas de uma montanha, situado cerca de vinte milhas do local do encontro. O mosteiro estava habitado, pois os monges tinham resolvido ficar e sofrer o martírio caso fossem descobertos pelos hunos, cujo grande divertimento era incendiar igrejas e crucificar padres, dizendo que assim eles chegariam mais cedo ao céu, como acontecera com o seu mestre Jesus Cristo. O apelido de Flagelo de Deus dado a Átila não era injustificado.

Escondido o tesouro nos subterrâneos do mosteiro, Leão mandou mensagem ao rei huno dizendo que chegaria no dia seguinte pela manhã, fez leve refeição e descansou algumas horas. Ao primeiro cantar do galo partiu para o seu encontro com o destino.

Átila nasceu e reinou no que hoje é a Hungria, que o tem como herói nacional. Reconstituição de
                    sua imagem feita pelos peritos do "Atilla Museum" de Budapeste

O sol já estava alto quando ele se aproximou do imenso acampamento huno e uma luzidia escolta veio recebê-lo para levá-lo ao rei que o esperava montado a cavalo, cercado pelos seus generais e por uma multidão de guerreiros. O Papa aproximou-se ao trote macio da sua mula, cumprimentou o rei respeitosamente e lhe disse: “Há muitos anos eu estava em Milão, jantando na casa do saudoso general Gaudêncio Aécio, quando se comentou a respeito da sua recente elevação ao trono dos hunos. Um dos presentes sabia que o general o conhecia bem e perguntou sua opinião sobre você. Ele pensou um pouco e respondeu: É um homem bravo e honrado, que valoriza os amigos e respeita a palavra empenhada! Foi por lembrar a boa opinião do general Gaudêncio sobre você que pedi este encontro. Tenho a sua palavra de que cumprirá fielmente tudo o que acertarmos”?

O Pontífice sabia da amizade e respeito de Átila pelo falecido general Gaudêncio, e por isso contou a história, certo de que isto lisonjearia o feroz guerreiro. E não errou: Átila sorriu, traduziu para os seus generais as primeiras palavras do Papa e todos balançaram a cabeça em aprovação, pois um elogio desses vindo do pai de Flávio Aécio, a quem eles respeitavam imensamente apesar de agora estarem em campos opostos, era realmente um grande elogio. Átila voltou-se para o Papa e respondeu: “A alma do general Gaudêncio é testemunha de que cumprirei fielmente tudo o que decidirmos”!

A conferência então começou.

Apesar de Leão ser homem idoso, Átila não o convidou para conversarem sentados e permaneceu em seu cavalo esperando que o velho sacerdote, cansado da longa viagem, apeasse e pedisse uma cadeira. Se isto acontecesse o Papa ficaria na posição de vassalo e ele na posição de senhor, olhando de cima para baixo um velho humilde que vinha suplicar sua generosidade. Porém Leão percebeu o truque e ficou montado em sua mula falando ao rei de igual para igual.


Leão I era homem bravo e altivo. Apesar da idade e do cansaço recusou
curvar-se perante Átila. Tela de Francisco Herrera (séc. XVII)

A conferência durou cinco horas e nem por um momento o velho demonstrou fadiga ou desânimo. Segundo contou depois aos seus acompanhantes, todo o tempo ele via claramente São Pedro e São Paulo amparando-o, enquanto o Espírito Santo iluminava o seu pensamento e dava firmeza às suas palavras. Ele tentou primeiro argumentos morais e teológicos, embora soubesse que isto seria inútil, mas sua intenção não era converter Átila, e sim cansá-lo. Depois de quase uma hora de conversa, viu que o rei estava ficando impaciente e então entrou no que interessava: o preço da sua retirada do solo italiano! Começou oferecendo apenas dez por cento do tesouro que trouxera e Átila recusou com desdém, dizendo que havia recebido o triplo para poupar Milão.

O montante foi subindo aos poucos, no mais incrível jogo de barganha que se tem notícia, até que passadas cinco horas chegou aos cem por cento do tesouro e Átila recusou novamente. O Papa fez um gesto de desânimo, como se fosse encerrar a negociação, e disse ao feroz guerreiro: “Você pode me matar e destruir minha cidade, mas isto não lhe trará qualquer ganho adicional porque não existe nenhum grão de ouro a mais. Tudo o que vai conseguir é mais sofrimento para o meu povo e o seu”. Fez o sinal da cruz e ajeitou as rédeas da mula para fazer meia volta.

Átila viu que tinha chegado ao fundo do poço e que não havia mais ouro; levantou o braço e falou: “Espere! Você é um homem bravo e merece o nome de Leão; também é um homem honesto e merece ser tratado com respeito; vejo que está dizendo a verdade; por isso retiro minha recusa e aceito sua proposta”!

O Papa fez a mula voltar à posição original e respondeu: “Então fechemos o nosso tratado com um aperto de mão”! Gritos e aplausos irromperam da multidão quando os dois líderes apertavam as mãos demoradamente, mostrando a todos que tinham chegado a um acordo.

Na época nada se falou, mas entre o povo espalhou-se a versão de que Átila recuara
                           ao ver São Pedro e São Paulo flutuando no ar ao lado do Papa

Átila ordenou aos guerreiros silêncio e depois das coisas se acalmarem perguntou: “Quando receberei o ouro”? Leão olhou para o alto apontando para o sol e respondeu: “Amanhã, nesta mesma hora”! Apertaram as mãos novamente e o bravo sacerdote despediu-se dizendo: “Adeus meu filho; somente voltaremos a nos encontrar na vida eterna”! Fez meia volta e afastou-se por entre as intermináveis fileiras de ferozes guerreiros que respeitosamente lhe abriam caminho.

No outro dia longa caravana de mulas carregando pesados fardos se aproximou do acampamento huno conduzida por duas dúzias de monges, chefiados por três altos prelados em trajes simples, e levaram a tarde inteira descarregando e contabilizando o imenso tesouro sob os olhares pasmados de milhares de guerreiros. Átila, tal como no dia anterior, permaneceu montado assistindo silencioso o ouro se acumular na sua frente e o dia se aproximava do fim quando os clérigos finalmente terminaram. Postaram-se diante do rei, curvaram-se respeitosamente e foram embora sem dizer palavra.

Os hunos passaram a noite desfilando diante do tesouro que resplandecia à luz das fogueiras e no dia seguinte começaram os preparativos do regresso. Três dias depois iniciaram a retirada do solo italiano e regressaram ao seu reino na Hungria.