terça-feira, 9 de novembro de 2010

Post nº 09

O  DIA  EM  QUE  SANTOS  E  ANJOS  FIZERAM  ÁTILA  RECUAR

O inexplicável recuo de Átila em 452, após conferenciar com o Papa Leão I no norte da Itália, é
um dos grandes mistérios da história. Afresco de Rafael (séc. XVI) 




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Em 452 Átila cruzou os Alpes Orientais com o seu enorme exército de cavaleiros hunos e devastou o norte da Itália. Sem condições de enfrentá-lo em batalha campal, pois o exército romano era muito inferior ao exército huno, o general Aécio foi para as montanhas com os seus poucos batalhões e lhe moveu incansável guerra de guerrilhas. Porém Átila continuou a saquear e destruir, até que resolveu marchar para o sul e apoderar-se da mais rica presa de todas: Roma!

O caminho estava completamente aberto: não havia nenhum exército inimigo e a população civil abandonara suas casas, fugindo aterrorizada para as montanhas. Devido ao ódio que tinha aos romanos e ao cristianismo, o rei dos hunos era chamado de “O Flagelo de Deus” e contava-se que o seu passatempo favorito era incendiar igrejas e crucificar padres, dizendo-lhes rindo que assim eles chegariam à presença de Jesus Cristo de acordo com a sua fé e a certeza da salvação. Porém é possível que muita coisa fosse lenda ou propaganda do próprio Átila para se fazer mais aterrador e assim obter o que queria. Durante anos ele obtivera fortunas chantageando o Império Romano do Oriente, porém quando decidiu fazer o mesmo com o Império Ocidental o general Aécio, que o conhecia bem, se opôs e o derrotou em grande batalha na França atual em 451. Mas para realizar tal façanha Aécio tivera o apoio de Visigodos, Alanos, Francos, Burgundos e dezenas de outras tribos bárbaras menores já estabelecidas na Gália atacada e em acelerado processo de romanização. Porém referidas tribos estavam distantes e Aécio não contou com o mesmo apoio quando no ano seguinte Átila atacou a própria Itália com milhares de ferozes cavaleiros da Europa central e do leste. Por isso o general romano se refugiou nas montanhas com o seu pequeno exército e limitou-se a ações de guerrilhas contra o líder huno, seu ex-amigo e antigo aliado.

O grande adversário de Átila era o general romano Aécio, mas ele não dispunha
de exército capaz de enfrentar os hunos. Ilustração gráfica do autor

Não havendo obstáculos entre os terríveis invasores e a capital do mundo, Átila pôs-se em marcha com suas centenas de batalhões bárbaros e foi aí que aconteceu um dos fatos mais surpreendentes e misteriosos da história: à sua frente surgiu o Papa Leão I montado em uma mula, acompanhado de uma centena de padres e de alguns altos dignitários romanos, todos eles em trajes simples e completamente desarmados. O que se passou de verdade ninguém sabe, pois tudo que temos é o relato da própria Igreja, mas o fato é que Átila fez meia-volta e desistiu de destruir Roma após conversar longamente com o Papa. Em seguida retirou-se da Itália acossado pelos batalhões guerrilheiros de Aécio e regressou ao seu reino. No ano seguinte morreu de causas naturais enquanto dormia ao lado da esposa em seu palácio de madeira na Hungria atual.

Quando ele desistira de atacar Roma todos gritaram “Milagre!”, pois a Igreja dizia que Átila obedecera a ordem de Leão para recuar depois que vira São Pedro e São Paulo pairando no ar sobre a cabeça do Papa, tendo atrás deles uma coorte de anjos com ameaçadoras espadas de fogo; Átila e os seus guerreiros tinham ficado tão apavorados que preferiram não insistir e decidiram fazer o longo caminho de volta. Por incrível que pareça, esta versão predominou durante mais de mil anos e inspirou artistas como Rafael a retratarem o fantástico evento em esculturas e quadros famosos. Somente a partir do século XVIII, com o advento do Iluminismo e da chamada “Era da Razão”, é que surgiram dúvidas e a versão da Igreja foi contestada. Vários historiadores apresentaram versões alternativas, mas nenhuma teve comprovação histórica e elas continuam a ser hoje o que eram no início: apenas hipóteses!

Escultura em mármore no Vaticano sobre o encontro de Átila e Leão I
em 452 no norte da Itália. Alessandro Algardi (séc. XVII)

As únicas testemunhas do fato extraordinário estão mortas há mais de mil e quinhentos anos e a versão que elas nos deram é a que foi divulgada pela Igreja. Duvido que algum dia o mistério possa ser esclarecido. De qualquer forma, peguei um fato histórico comprovado aqui, outro acolá, e embora não se referissem diretamente a entrevista de Átila com o Papa, juntei todos eles de forma coerente e ofereci a minha versão no Capítulo III do meu romance “O Senhor dos Dragões”. Penso que ela não está longe da verdade, mas é uma hipótese como as outras e os interessados no assunto podem discuti-la e formularem suas próprias versões.

Enquanto isso permanece o mistério!



2 comentários:

  1. Falando em Átila, na ediçao especial da História Viva sobre os Bárbaros (grandes temas n. 28), diz-se que uma de suas sacadas geniais seria o uso da 'arma psicológica'. Ele utilizaria uma politica terrorista, disseminando a lenda de que a grama não voltaria a brotar por onde os hunos passavam. Porém, a destruição completa dos locais atacados era apenas no ínicio da campanha militar. As histórias sobre a violencia utilizada se espalhavam, criando uma onda de panico na populaçao, gerando uma fuga das cidades e facilitando o trabalho de Átila e seus guerreiros.
    É... a propaganda sempre foi a alma do negócio...

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  2. A história que você leu está certíssima, Simone. Átila era um gênio militar e político e, ao contrário das lendas, não era selvagem ou ignorante: teve professores de grego e latim, foi amigo e aliado de Aetius, visitou cidades italianas como diplomata e cogitou-se do seu casamento com a princesa Honória, irmã do imperador Valentiniano. Agora, que ele era terrível, lá isso ele era, pois odiava o cristianismo e divertia-se queimando igrejas e crucificando padres, daí o seu apelido "Flagelo de Deus". Mas o terror que ele implantava tinha como objetivo principal obter altas somas das ricas cidades em pânico que ele poupava em troca de pesados resgates, pois era adepto do ditado "faz a tua fama e deita-te na cama". Por isso trombeteava: "onde o meu cavalo pisa a erva não torna a crescer"! Como você diz, "a propaganda sempre foi a alma do negócio"!
    Volte sempre. Grande abraço

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