domingo, 30 de janeiro de 2011

Post nº 24

BATALHA  DE  AQUILEIA  -  COMEÇO  DO  FIM  DE  ÁTILA


A batalha de Aquileia foi feroz e Átila triunfou a muito custo. Depois
          da vitória vingou-se destruindo a cidade


Para adquirir estes livros clique acima em nossa Livraria Virtual
                                            

Em abril de 452 Átila e os seus ferozes guerreiros hunos cruzaram os Alpes orientais e invadiram a Itália. O primeiro obstáculo que enfrentaram foi a grande cidade romana de Aquileia, a mais importante e rica do nordeste da península. Após uma semana de hesitação devido à superstição dos guerreiros hunos que confundiram legionários negros com demônios, eles atacaram em massa, porém, por incrível que pareça, a cidade resistiu bravamente por três longos meses!

Aécio ficou surpreso por Átila não desistir depois do primeiro mês, pois os hunos gostavam de lutar em campo aberto, galopando velozmente e disparando flechas contra o inimigo, mas detestavam cercos prolongados, nos quais tinham de lutar a pé escalando muralhas. Nesse tipo de luta, enquanto alguns grupos atacavam e eram repelidos, os demais ficavam ociosos aguardando sua vez de atacar; isto os irritava e sempre que podiam evitavam tal tipo de combate. Também o surpreendeu o fato de Átila não deixar uma fração das suas tropas cercando a cidade e avançado com seu imenso exército sobre o resto da Itália. Do ponto de vista militar a atitude do rei huno não fazia sentido. O que Aécio só veio saber depois é que a derrota sofrida na Gália no ano anterior humilhara Átila profundamente e ele decidira vingar-se destruindo Aquileia com ataque após ataque a fim de não dar descanso aos defensores e esmagá-los rapidamente. Porém a poderosa guarnição lhe opôs tenaz resistência, o que o fez se apegar ainda mais ao seu infantil projeto de vingança, alheio ao bom senso militar. O orgulho ferido de Átila, portanto, teve grande influência no resultado final da campanha da Itália.

                       Átila, escultura em cera no Museu de Budapeste. 

Metade da população abandonou a cidade antes da batalha começar, mas a outra metade estava certa da vitória e permaneceu. Porém, com o prolongamento do cerco, decidiram também ir embora e novo êxodo começou todas as noites pelos túneis de esgoto que levavam a um pântano algumas milhas ao sul, cercado de florestas e que se estendia até à costa do Adriático, constituindo excelente esconderijo. 

No início do verão Átila ainda estava parado em Aquileia lamentando seu tolo projeto de vingança e enfrentando terrível dilema: continuar um cerco de resultado duvidoso, que lhe custava grandes perdas e teria resultados pífios mesmo em caso de vitória, ou suspendê-lo e marchar desmoralizado em busca de presas mais fáceis? Seus guerreiros estavam desanimados, a luta perdera intensidade e ele rezava com fervor aos seus deuses pagãos pedindo-lhes para lhe dizerem o que fazer.

Os hunos gostavam muito de animais e desde o início da batalha Átila observava todos os dias uma família de cegonhas que vivia no telhado de uma das grandes torres da muralha. Ele ficara impressionado com a calma e a indiferença das aves pela terrível luta logo abaixo delas, saindo uma de cada vez para buscar comida e voltar depois para alimentar os filhotes. Uma manhã, ele olhava as muralhas quando viu as cegonhas saírem todas de uma vez do alto da torre e se organizarem no céu para um inexplicável vôo migratório fora da estação. Raciocinou que isso se dava por causas outras que não aquelas ditadas pela natureza e interpretou o fato como sendo a resposta dos deuses às suas orações: eles lhe diziam que a cidade iria cair e por isso as aves abandonavam o seu lar antes que ele fosse destruído! Imediatamente comunicou a “mensagem divina” às suas desanimadas tropas e estas olharam para o céu a fim de observar o fenômeno, convencendo-se do estranho oráculo e retornando à batalha com ânimo e esforço redobrados.

O resultado foi ultrapassarem as muralhas e espraiarem-se pela cidade em luta furiosa, pois os legionários decidiram não se render e continuaram a lhes opor feroz resistência, rua a rua, casa a casa, por quase uma semana. No último dia restavam menos de duzentos soldados comandados pelo tribuno Jorgius, entrincheirados na catedral com o bispo Otaciano e dois padres que tinham ficado na cidade para dar assistência religiosa às tropas e ministrar os sacramentos aos soldados agonizantes.


Os legionários romanos lutaram bravamente mas
não puderam salvar Aquileia

O bispo dirigiu-se a Jorgius e disse-lhe que os soldados poderiam escapar por um corredor secreto ligando a catedral aos túneis de esgoto, mas deveriam apressar-se porque os hunos já tinham começado a incendiar o templo; ele e os padres ficariam para enfrentar o martírio. O tribuno consultou os legionários e eles se recusaram a fugir, fazendo-o dizer ao bispo: “O senhor ouviu os soldados e nós vamos ficar, mas alguém precisa contar aos cristãos como nós lutamos até o fim contra os adoradores do diabo na defesa da santa religião de Nosso Senhor Jesus Cristo; por isso ordeno que vá com os padres contar ao mundo o nosso sacrifício e manter viva a verdadeira fé”! O bispo respondeu-lhe: “Sim, os cristãos precisam saber e a fé deve ser mantida”. Abençoou os homens ajoelhados e retirou-se, pois o incêndio começava a se espalhar. Abriu a porta secreta atrás de um altar lateral e mandou que os padres fossem na frente.

Antes de partir e fechá-la, ficou por mais alguns instantes e viu Jorgius discursando aos seus comandados: “Nós não ficaremos aqui dentro para morrer como ratos; vamos para fora mostrar aos demônios como morre um cristão”! Em seguida, pegou um estandarte onde estava pintada a imagem de Nossa Senhora e, com ele na mão esquerda e a espada na mão direita, dirigiu-se à saída acompanhado pelos demais, bradando: “Pela maior glória da Santíssima Virgem Maria”! Abriram o pesado portão e lançaram-se ao turbilhão enquanto o bispo fazia o sinal da cruz, fechava a porta secreta e enveredava pelo túnel atrás dos outros padres.

Nessa mesma noite eles contavam aos refugiados no pântano o que acontecera, enquanto ao longe viam o clarão do incêndio que consumia a cidade.



sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Post nº 23

MARCO  AURÉLIO  -  O  MAIS  SÁBIO  E  JUSTO  IMPERADOR  ROMANO  DA  HISTÓRIA


Marco Aurélio ao tornar-se imperador pleno aos 42 anos de idade em 161 DC



Para adquirir estes livros clique acima em nossa Livraria Virtual



Marco Aurélio foi um dos maiores imperadores em toda a história do Império Romano. Nascido em uma família principesca riquíssima, originária da Espanha e por isso muito ligada aos imperadores espanhóis Nerva, Trajano e Adriano, ficou órfão ainda criança e cedo mostrou inclinação para as coisas do intelecto. Criado pelo avô, amicíssimo do imperador Adriano, quando adolescente dedicou-se à filosofia, adotando o comportamento austero, simples e modesto dos filósofos. Continuou assim mesmo após o pai da noiva que lhe tinham arranjado ser nomeado imperador-adjunto por Adriano e quando o seu parente próximo e quase sogro morreu pouco depois ele assumiu posição de relevo na família, que era uma incrível teia ultra-aristocrática de pais, pais adotivos, tios, irmãos, irmãos adotivos, primos, primas, sogros, etc. O imperador Adriano ficou devastado pela morte do amigo, parente próximo do jovem filósofo, e sentindo-se muito doente quis nomeá-lo seu sucessor por não ter filhos, porém, vendo que ele era moço e inexperiente, preferiu nomear o seu respeitado tio Antonino sob a condição dele adotar o sobrinho como filho e sucessor. Quando Adriano morreu em 138 DC, Antonino assumiu e Marco tornou-se herdeiro e noivo da filha do novo imperador, que logo o nomeou para importantes cargos. Alguns anos depois assumiu o posto de imperador-adjunto do pai adotivo e agora sogro.
 

Marco Aurélio adolescente

O jovem filósofo mostrou não só que era culto, educado e justo, como também trabalhador infatigável, ótimo administrador e hábil político. A única coisa que não pôde mostrar durante o longo e pacífico reinado de Antonino foi que era bravo e competente general. Isto só aconteceria após o seu sogro morrer em 161 DC e ele tornar-se imperador pleno em conjunto com o seu irmão adotivo Vero. O Senado não tinha este em boa conta por sua má reputação e só o aceitou devido ao enorme empenho de Marco, de sorte que pela primeira vez na História o Império Romano se viu legalmente governado por dois imperadores ao mesmo tempo.

Antonino Pio, pai adotivo e sogro de Marco Aurélio, presidiu o mais
                                          tranquilo governo da história do Império Romano

Como se fosse uma maldição, a paz reinante no governo de Antonino foi rompida quase que imediatamente, com invasores bárbaros atacando as fronteiras do Império por todos os lados. Marco e o irmão desdobraram-se na defesa, mas logo o primeiro mostrou que era melhor general do que o segundo, o qual, além de preguiçoso e amante dos prazeres, era granfino, pernóstico, só se instalava em tendas luxuosas, evitava misturar-se com a soldadesca e era injusto e cruel nos castigos disciplinares. Marco era o contrário: ativo e de costumes espartanos, era gentil com todos, comia com os soldados, chamava-os pelos nomes, submetia-se aos mesmos desconfortos, habitava tendas de campanha, participava das batalhas e era justo e moderado nos castigos. Em consequência, tornou-se ídolo do exército e obteve vitórias que lhe deram prestígio político e militar em todo o Império.

Marco Aurélio distribui comida à população de uma cidade afetada
            por desastre natural. Tela de Joseph Marie Vien (séc. XVIII)

Na frente interna também houve pavorosos desastres e Marco os enfrentou com estóica competência. Certa vez, estando o Tesouro vazio, pôs em leilão a mobília e a prataria do Palácio Imperial para ajudar a população de uma região assolada por terrível catástrofe. Sua mulher foi com os filhos para a casa de parentes, porém Marco ficou no palácio, alojado na ala dos criados e despachando em seu gabinete, cuja mobília fora arrematada por um amigo que a dera de volta ao filantropo imperador no ato. Claro que os riquíssimos amigos fizeram uma gorda coleta e o palácio foi remobiliado poucos dias depois, mas o seu altruísmo calou fundo na alma de todos.

Querendo que toda sociedade romana ajudasse no socorro à região assolada por grave desastre natural,
                                                               Marco deu o exemplo leiloando o mobiliário do palácio

Como se não bastassem as guerras e calamidades, boatos sobre infidelidades da sua bela esposa Faustina, praticadas durante suas longas ausências forçadas pelas guerras, circularam em Roma e chegaram aos seus ouvidos, deixando-o fortemente abalado. Mas como casara apaixonado já homem feito e ela uma adolescente, recusou-se a acreditar e não mudou o seu comportamento de marido afetuoso. Foi então que uma vasta rebelião eclodiu na Ásia chefiada por Avídio Cássio, governador da Síria e ótimo general seu amigo. Na ocasião Marco estava em guerra na Germânia e ficou devastado ao saber da rebelião e da fuga de Faustina para juntar-se ao general rebelde na Ásia, o que aumentou as suspeitas de que ambos já fossem amantes há tempos. O estoico imperador suportou o duplo infortúnio com calma admirável e tentou acalmar o ex-amigo rebelado, mas este foi intransigente e proclamou-se imperador, forçando Marco a marchar contra ele.

Faustina a Jovem, bela e infiel esposa de Marco Aurélio (séc. II DC)

A maioria dos senadores e aristocratas ficou em cima do muro, pois a fama militar de Avídio era enorme e poucos achavam que ele fosse derrotado pelo bondoso imperador filósofo. “Melhor esperar”, pensaram com frio oportunismo. Mas o inesperado aconteceu. Apesar de ótimo general Avídio era odiado pelas tropas devido a sua excessiva severidade e crueldade, mandando chicotear ou crucificar soldados por mínimas infrações à disciplina. Quando se soube que o exército de Marco se aproximava, uma rebelião explodiu dentro da rebelião e Avídio foi morto. Junto com ele morreram também os oficiais e soldados que lhe eram fiéis e a imperatriz Faustina buscou o perdão do marido enquanto refugiava-se em cidadezinha do interior da Ásia onde havia importante guarnição militar, porém adoeceu e morreu enquanto esperava o marido que a perdoara.

Comodus, filho de Faustina e Marco Aurélio, aparece no filme "Gladiador" como fracote e covarde, mas
                         era um brutamontes valente e teria sido bom general se não fosse irresponsável, cruel e corrupto

Faustina e Marco tiveram quatorze filhos, dos quais apenas cinco, um homem e quatro mulheres, chegaram a idade adulta. Comodus, único filho homem sobrevivente, era tratado com excesso de carinho pelo pai, que o fez herdeiro e sucessor, porém o seu caráter violento, cruel e devasso levou muitos a dizerem que tal indivíduo não poderia ser filho de homem justo e decente como Marco Aurélio, mas apenas o produto sórdido das infidelidades da falecida Faustina com oficiais, cortesãos e até mesmo gladiadores. Não obstante, nunca houve provas concretas e Marco não deu ouvidos ao falatório que lhe causava tanto desgosto, tratando o filho corretamente e fazendo-o mais tarde imperador-adjunto. Tendo no excesso de tolerância um dos seus maiores defeitos, adotou o mesmo procedimento magnânimo com a infiel Faustina, pois, além de perdoá-la, a chorou e construiu belo mausoléu para acolher suas cinzas. Por fim, levando sua tolerância aos limites do absurdo, dedicou-lhe carinhosas páginas em seus escritos e mandou incluí-la no panteão dos deuses romanos!

No fim da vida Marco Aurélio era homem precocemente envelhecido pelas guerras, rebeliões e desastres que
                  marcaram o seu reinado. Seus dramas pessoais o infelicitaram mais ainda. Cena do filme "Gladiador"

Só após tamanhas provas de grandeza e generosidade foi que os oportunistas senadores decidiram-se por Marco e excederam-se nas perseguições às famílias e aos partidários dos vencidos, prendendo-os, confiscando-lhes os bens e condenando-os a morte, querendo assim provar sua “lealdade” ao imperador vitorioso. Só não os executaram porque decidiram esperar terem suas decisões confirmadas por Marco, pois sendo ele notoriamente bondoso era possível que medidas extremas contra inocentes não o agradassem. E foi o que aconteceu. Quando as cruéis sentenças chegaram à Ásia, onde Marco se demorava pondo a bagunça em ordem, ele ficou horrorizado e ao invés de confirmá-las escreveu ao Senado uma carta que é o mais belo pedido de anistia feito por um governante a um parlamento em toda a história. A carta é longa e cheia de considerações éticas e filosóficas, por isso daremos aqui apenas um resumo que sintetiza bem a grandeza moral de Marco Aurélio:

Pais conscritos: por que não se abrandam vossos corações? Por que julgais que os familiares e amigos de Ávido Cássio merecem castigos tão cruéis se eles nenhum crime cometeram? Na verdade, tudo que fizeram foi rezar aos deuses pelo sucesso dos seus entes queridos na infeliz empreitada a que se propuseram, e isso é o que todos nós fazemos pelos nossos, sem indagar se a causa deles é justa ou injusta. Portanto, peço-vos que devolvais aos parentes, amigos e partidários dos rebeldes a vida, a liberdade e os bens que tão injustamente lhes quereis tomar. E se outro favor vós jamais me fizerdes novamente, fazei pelo menos este: o de legar à memória dos pósteros a certeza de que no reinado de Marco ninguém sofreu represálias por causa das suas opiniões e somente pereceram aqueles que honrosamente tombaram no campo de batalha.

O Senado, é claro, atendeu o comovente pedido do imperador filósofo e todos os simpatizantes da revolta foram anistiados. Marco Aurélio continuou governando com dedicação e justiça em meio às atrozes guerras e calamidades que fustigaram o seu reinado. Parece que os deuses queriam por a prova as suas virtudes até o fim dos seus dias.

Diferente do pai, Comodus era incapaz,  perverso e brutal. Seu esporte preferido era
                                  lutar no circo com gladiadores tão assassinos quanto ele
         
Apesar de escritor primoroso, a modéstia o impedia de publicar os seus notáveis "Pensamentos Filosóficos" escritos em excelente grego clássico, os quais só vieram ao conhecimento do público após a sua morte, mas mesmo na frente de batalha ele sempre tirava alguns momentos para conversar com amigos sábios que o acompanhavam, colher com humildade os seus ensinamentos, meditar e escrever em sua tenda de campanha. Hoje, devido a época iconoclasta em que vivemos, cujo principal esporte parece ser a destruição de reputações por mais respeitáveis que sejam, alguns dos seus "pensamentos" têm sido criticados por externarem excessiva tolerância, ingenuidade e humildade difícil de ser aceita, porém, por mais severas que sejam as críticas, não podem elas negar a honestidade intelectual com que foram escritos.

Morte de Marco Aurélio. Excessivamente ligado à família e nepotista, ele acaricia o mau filho Comodus
                                                        enquanto agoniza. Quadro de Eugène Delacroix (séc. XIX)

No ano de 180 DC ele estava em guerra com os bárbaros nas sombrias florestas do alto rio Danúbio, com eles travando sangrentos combates quase diários, quando adoeceu gravemente e em poucos dias morreu em um vilarejo que é hoje a majestosa cidade de Viena. Alguns anos antes o seu irmão adotivo Vero, que era também seu genro e imperador-adjunto, tinha morrido e ele, confirmando o grave defeito do nepotismo que tisnava o seu reto caráter e do qual a filosofia nunca conseguira livrá-lo, nomeara o filho Comodus imperador-adjunto e sucessor. Talvez porque tenha emanado da sua mais grave falha de caráter, a nomeação de Comodus deve ter sido o único ato da sua vida do qual se arrependeu amargamente na eternidade.


O funeral de Marco Aurélio foi um dos raros momentos em que os romanos se irmanaram na tristeza

O seu imponente funeral constituiu-se numa das poucas ocasiões em que a materialista e utilitária sociedade romana mostrou real pesar. As suas cinzas foram depositadas no mausoléu de Adriano, o Senado o colocou na ordem dos deuses e foi decretado que todos os cidadãos deveriam ter a sua efígie em casa, sendo a sua falta grave crime de sacrilégio.

Com certeza, foi a única vez na longa história de Roma em que o povo realmente levou a sério a sagração de um deus. 





sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Post nº 22


A  TÉCNICA  DO  ROMANCE  HISTÓRICO  DE  GUERRA  E  DE  AVENTURAS

ENTREVISTA  AO  JORNALISTA  RENATO  LIMA  PARA
A  REVISTA  LITERÁRIA  CONTINENTE


Capa e contracapa da 1ª ed. do romance histórico "Memórias Íntimas de Flávio Aécio", publicado
em 2ª ed. com o título "Memórias Íntimas de Flavius Marcellus Aetius"


Para adquirir estes livros clique acima em nossa Livraria Virtual


         
O culto jornalista Renato Lima está atualmente nos Estados Unidos fazendo o seu mestrado na Universidade de Illinois, onde eu também já estudei. Ele me entrevistara anos atrás no seu prestigioso programa CAFÉ COLOMBO, com o qual movimenta o cenário literário pernambucano todos os domingos na Rádio Universitária da UFPE e no excelente site http://www.cafecolombo.com.br/ na internet, onde o que há de melhor em livros e no mundo das idéias é exposto e debatido. 

Desde então nos tornamos bons amigos e há alguns meses ele veio de férias ao Recife, dando-me não só o prazer de uma visita, mas também o de uma entrevista para a edição de novembro passado do SUPLEMENTO CULTURAL PERNAMBUCO, o qual é distribuído junto com a Revista CONTINENTE, uma das melhores do país na matéria.

A entrevista versa no geral sobre como eu entendo o gênero literário romance histórico e no particular sobre os meus livros "O SENHOR DOS DRAGÕES' e "MEMÓRIAS ÍNTIMAS DE FLAVIUS MARCELLUS AETIUS", publicados pela "Editora Bagaço" e lançados pela "Livraria Cultura" em agosto último. Gostei muito do formato sucinto, leve e inteligente que o Renato deu ao nosso longo "bate-papo", transformando-o em entrevista, gênero literário hoje quase esquecido, mas do qual ele é mestre consumado, como demonstra abaixo. Tenham todos uma boa leitura. 




Espero que esta entrevista tenha sido útil aos que pretendem se dedicar ao duro ofício de escrever ou apenas entender melhor o cansativo e complexo mecanismo da criação literária. Como disse o poeta, "escrever faz suar a alma"!



domingo, 9 de janeiro de 2011

Post nº 21

BATALHA  DOS  CAMPOS  CATALÚNICOS  -  AS  GRANDES  CONTROVÉRSIAS 


Os hunos invadem a Gália semeando destruição até serem derrotados nos
Campos Catalúnicos. Gravura de Alphonse de Neuville (séc. XIX)

Para adquirir estes livros clique acima em nossa Livraria 
virtual ou vá ao site da Amazon.com 


Há mais de 15 séculos (451 DC) foi travada a batalha dos Campos Catalúnicos, também chamada "batalha de Chalôns", mas até hoje ela gera controvérsias entre historiadores e estudiosos do desenvolvimento econômico e cultural da Europa pós-batalha, pois foi a partir do seu resultado que se definiu a cultura que presidiria a formação do mundo medieval, sobre o qual se construiu o moderno mundo em que vivemos. Vejamos algumas delas, umas de importância menor e outras de importância maior. 

A primeira é importante apenas para a indústria turística francesa, pois se refere ao local onde foi travada a batalha. Ninguém conhece o lugar certo, mas a cidade de Chalôns-sur-Marne aponta um vasto campo vizinho dizendo que ele e seus arredores são os célebres Campos Catalúnicos, argumentando que muitos chamam a luta de Batalha de Chalôns. Ademais, a cidade fica numa área de grande importância estratégica desde muito antes de Átila, pois foi nela que no século III o imperador Aureliano derrotou famoso general que contra ele se revoltara. Também foram travadas grandes batalhas na região entre os exércitos franceses e alemães durante a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), porém a mais famosa batalha que se afirma ter sido travada no local é a dos Campos Catalúnicos, pois o fato constitui importante chamariz turístico. Com isso a cidade fatura bastante, mas não há como provar que a Chalôns do século V é a mesma Chalôns de hoje. Por isso muitos discordam e apontam outros possíveis sítios do famoso embate.

Campanha de Átila e dos exércitos aliados sob o comando de Aécio na Gália em 451 DC

A segunda diz respeito à sua importância, porque embora a maioria diga que foi uma das maiores e mais importantes batalhas da História, uma minoria diz que foi pequena e não teve grande importância. Na verdade a batalha foi enorme porque nela lutaram, de um lado ou de outro, quase todas as nações européias da época. Por isso é que a chamam de “A Batalha das Nações”! Quanto à sua importância, basta perguntar: se não foi importante, por que então estamos falando dela 15 séculos depois?

Outra polêmica é sobre quem lutou ao lado de quem. Embora saibamos que muitas nações lutaram unidas, como os burgundos ao lado de Aécio e os hérulos ao lado de Átila, sabemos também que muitas lutaram divididas, como os godos, os francos e os alamanos. Os visigodos (godos ocidentais) lutaram ao lado de Aécio, porém os ostrogodos (godos orientais) lutaram ao lado de Átila; os francos de Meroveu ficaram do lado de Aécio, mas os francos de Clodion II ficaram do lado de Átila; a posição dos alamanos é um mistério: muitos os colocam unidos ao lado de Aécio, mas outros informam o contrário, sendo bem possível que também tenham lutado divididos. De tudo resta a conclusão de que a batalha foi, em sua essência, uma batalha de povos romanizados, ou em vias de romanização, contra os que rejeitavam essa romanização. Em suma: uma luta de hunos contra romanos!

Também debate-se sobre qual dos líderes coligados venceu a batalha, pois os hunos eram maioria no exército de Átila, mas os romanos eram minoria no exército de Aécio. Daí alguns dizerem que os vencedores foram Teodorico e Meroveu, chefes dos dois maiores exércitos aliados, e não Aécio. Eu concordaria se não fosse por duas coisas: a) foi Aécio quem organizou a aliança, da qual Teodorico não queria participar e só participou ao ver que não tinha escolha; b) foi a disciplina dos romanos e a decisão de Aécio de avançar em formação compacta que pôs Átila sob ameaça de cerco e o forçou a recuar. Não fosse por isso Átila dominaria a Gália com ou sem batalha. Portanto, não vejo como se negar a Aécio o mérito principal pela vitória, embora os outros tenham sido de fundamental importância.

Campanhas de Átila. O seu império era imenso, porém era mais uma
     confederação de tribos sob sua chefia do que um Estado organizado

Há muitas outras questões ainda não resolvidas e que talvez jamais o sejam, pois a história do século V é muito confusa e às vezes bastante obscura, quando não contraditória. Além das já mencionadas, as mais importantes questões a meu ver são as seguintes:


1) Alguns dizem que a batalha foi em junho e outros em agosto, mas a maioria diz que foi em meados de julho, data mais lógica dentro do contexto geral, e eu concordo.

2) Todos os historiadores dizem que a batalha começou no início da tarde e terminou ao anoitecer, mas acho isso estranho, pois os exércitos aliados vinham em marcha acelerada perseguindo Átila e certamento estavam cansados ao avistarem o exército huno esperando-os calmamente para dar-lhes batalha. Aécio era general experiente e sabia que se atacasse tropas descansadas com tropas cansadas estaria em enorme desvantagem, por isso o lógico seria descansar e atacar na manhã seguinte. Por que ele não o fez e combateu à tarde é um mistério, mas tenho uma hipótese: Aécio realmente preferiu descansar e combater no início do dia seguinte, mas torrencial chuva de verão durante a noite deixou o terreno impróprio para a cavalaria manobrar, obrigando ele e Átila esperarem que o forte sol da manhã secasse o solo e lhes permitisse lutar com eficiência. Por isso a batalha teria sido travada à tarde. É só uma hipótese, mas penso que é a melhor explicação possível.  

3) A luta foi gigantesca, mas o número de homens envolvidos me parece exagerado, pois não vejo como pudesse haver na Gália devastada suporte logístico para exércitos com mais de 100.000 homens. Acho exércitos com 200.000 homens impossível e o mais provável é que houvesse cerca de 80.000 combatentes de cada lado. Embora a Legião Romana tivesse tecnicamente 6.660 soldados (10 coortes de 666 legionários, e talvez o famoso número 666 da besta do Apocalipse venha daí), o seu efetivo raro passava dos 5.000 e era ainda menor no médio Império, ficando em torno de 3.000. No baixo Império, época de Aécio, eram cerca de 2.000. Penso que os romanos tinham cerca de 20.000 soldados, os francos 25.000 e os visigodos 35.000, totalizando aproximadamente 80.000 homens contra forças equivalentes de Átila. Estes números são mais realistas.

4) Do ponto de vista militar é muito importante o desenrolar da batalha, pois a partir dela a forma organizada de combater dos romanos desapareceu para só ressurgir na baixa Idade Média após o término das Cruzadas no século XIV. No caso da batalha dos Campos Catalúnicos, com exceção dos soldados profissionais de Aécio, que graças ao seu treino e disciplina lutaram organizados todo o tempo, no meio da tarde os aliados e os hunos misturavam-se numa tremenda barafunda de combates individuais. Por toda parte havia duelos homem a homem e poucos eram os pelotões bárbaros que ainda lutavam coesos. Foi em meio ao caos geral que Teodorico foi ferido e morreu depois de ser socorrido. Por sorte, os hunos já estavam recuando e a notícia da morte foi ocultada até o fim da batalha; dizia-se apenas que ele estava ferido, mas se recuperando. Embora alguns historiadores atribuam a vitória aos visigodos, acho que se não fosse pela organização das legiões romanas comandadas por Aécio os hunos teriam vencido.

5) As calúnias contra Aécio dizem que ele não esmagou Átila porque era seu amigo ou porque não queria ver os visigodos fortalecidos por uma vitória total. Afirmam que à noite ele procurou Átila e o aconselhou a recuar para evitar o desastre completo. Uma versão ainda mais infame diz que Teodorico foi morto por uma flecha romana disparada por hábil arqueiro a mando de Aécio.

6) Filme recente sobre Átila pinta Aécio como mau-caráter e encampa a calúnia, sugerindo serem os visigodos imbecis a ponto de não distinguirem uma flecha romana de uma flecha huna. Apesar dos atores e cenários serem bons, o filme é historicamente falso, pois Placídia morreu em 450 e ele a coloca ao lado de Aécio em 451, planejando a luta contra os hunos. Para sacramentar a falsidade histórica, finda com Aécio sendo assassinado na presença de Placídia em 454, quando ela já estava morta há quatro anos!

Finalmente, discute-se o mais importante de tudo: a batalha foi ou não foi decisiva para o destino do mundo da época?

A minoria diz que não porque Átila não queria dominar a Europa nem lhe impor a sua cultura, mas apenas roubar, argumentando que ele já estava em retirada quando os aliados o alcançaram perto de Chalôns. Alegam que se a batalha tivesse sido decisiva Átila não invadiria  a Itália no ano seguinte, quando só por milagre não destruiu Roma. Porém a maioria diz que foi decisiva porque Átila queria criar um grande império huno no Ocidente. A conquista da Gália seria fundamental, pois Espanha e Itália cairiam em seguida como frutas maduras. Diz também que Átila não estava se retirando coisa nenhuma e ia tomar Orleans quando soube que os aliados vinham socorrer a cidade. Só então levantou o cerco e, num excelente movimento tático, foi acampar nos Campos Catalúnicos, lugar ideal para sua cavalaria manobrar. Que retirada é essa, na qual o retirante escolhe o lugar para combater e espera pelos adversários? Quanto a ter invadido a Itália no ano seguinte, isto se deveu à sua sede de vingança pela humilhação sofrida na Gália, e se não conquistou Roma foi porque a derrota do ano anterior o deixou tão enfraquecido que lhe foram precisos três meses para tomar Aquileia, mesmo estando Aécio sem aliados e sem condições de socorrer a cidade sitiada.

Forçoso é concordar com a maioria. Caso Átila tivesse vencido, a adiantada cultura romana seria substituída no ocidente pela atrasada cultura bárbara, a palavra escrita desapareceria, o cristianismo seria abolido, Carlos Magno não surgiria e a “Idade das Trevas” seria muito pior do que foi. Certamente não teríamos as Universidades, a Divina Comédia, a Suma Teológica, as Catedrais Góticas ou a Renascença. Em resumo: a nossa cultura não existiria.

A existência da Civilização Ocidental nos dias de hoje foi o grande legado que a batalha dos Campos Catalúnicos nos deixou!




domingo, 2 de janeiro de 2011

Post nº 20

BATALHA  DOS  CAMPOS  CATALÚNICOS - O DIA  EM  QUE  A  INVENCIBILIDADE  DE  ÁTILA  ACABOU  

Batalha dos Campos Catalúnicos, fantasia cromática do autor. Tradução dos dizeres latinos: "A cavalaria
de Aécio irrompe entre as coortes hunas na Batalha dos Campos Catalúnicos"

Para adquirir estes livros clique acima em nossa Livraria Virtual


Quando Átila soube que os exércitos de Teodorico e Meroveu tinham feito junção com o exército de Aécio, levantou o cerco de Orleans e foi acampar nos Campos Catalúnicos perto da vila de Chalons, lugar ideal para sua cavalaria manobrar, e esperou calmamente pelos adversários. Ele estava tranquilo e certo da vitória, pois enquanto os inimigos o perseguiam em marcha acelerada ele descansava e escolhia dia e lugar para combater, vantagens com que sonha todo hábil chefe militar.

Os aliados vieram separadamente sob o comando unificado de Aécio: sessenta mil romanos pelo centro, cinqüenta mil francos pela direita e noventa mil visigodos pela esquerda. Tanto os visigodos quanto os francos tinham nos seus exércitos milhares de guerreiros de tribos germânicas menores que haviam aderido às suas respectivas causas.

A adesão de Teodorico à aliança foi decisiva para a derrota de Átila nos
                                                           Campos Catalúnicos. Gravura de Hermann Vogel (séc. XIX)
           
Segundo a maioria dos historiadores, a gigantesca batalha dos Campos Catalúnicos, também chamada batalha de Chalôns, envolveu quase meio milhão de homens de quase todas as nações européias da época e durou o dia inteiro. A estratégia de Aécio era a mesma que planejara adotar em Orleans caso tivesse havido a batalha: avançar em formato de arco invertido como uma pessoa que vai de braços abertos abraçar outra! Os godos e os francos ficariam nas extremidades do arco projetadas para a frente à direita e à esquerda enquanto os romanos ficariam no centro recuado. Aécio tinha certeza que Átila o atacaria com toda força e quando o fizesse ele recuaria lentamente enquanto Teodorico e Meroveu avançariam velozmente pelos flancos enfraquecidos do inimigo até fecharem o arco e completarem o cerco. Se a manobra fosse bem executada o destino dos hunos estaria selado. Mas Átila surpreendeu e ao invés de atacar Aécio no centro lançou a sua força principal contra a extremidade esquerda do arco onde estavam os visigodos de Teodorico, o maior dos três exércitos aliados. Seu plano era desbaratá-los e dar a volta por trás dos romanos e dos francos, cercando-os e esmagando-os. Com este objetivo, pôs oitenta mil homens da infantaria das tribos germânicas do leste para mantê-los imobilizados e atacou Teodorico com cento e vinte mil cavaleiros hunos. Contando com o fator surpresa, pois nem Aécio nem Teodorico esperavam por isso, Átila tinha certeza de que se o plano funcionasse ele venceria a batalha!

Batalha dos Campos Catalúnicos - Gravura de Hermann Vogel (séc. XIX)

Porém Teodorico resistiu bravamente quebrando o ímpeto do ataque huno e Aécio, ao invés de ficar preso ao solo como Átila queria, aproveitou-se da momentânea vantagem numérica e avançou com a sua infantaria couraçada e a treinada cavalaria de Meroveu para destruir a infantaria germânica aliada dos hunos, cujo papel seria apenas detê-los enquanto os visigodos eram aniquilados. Devido à feroz resistência destes e o avanço impetuoso dos romanos e francos, quem se viu na iminência de ser cercado e destruído foi Átila, que para escapar à derrota começou a recuar lentamente para o seu campo fortificado. No fim da tarde estava comprimido entre o exército aliado e as suas fortificações e se não fosse pelo cair da noite teria sido completamente derrotado.


Átila em desenho de autor anônimo do século XIX feito com base em antigo
              medalhão romano do século V considerado bastante fidedigno

Em desespero, encerrou-se no seu campo, cujas defesas eram constituídas por milhares de carroças dispostas em um imenso círculo, e preparou-se para enfrentar o ataque final dos aliados no dia seguinte. “Se os deuses o protegessem, ele os repeliria e contra-atacaria, destruindo-os”, era o seu comentário constante, mas quando os seus generais o informaram de que tinham perdido metade das tropas e muitos guerreiros das tribos germânicas aliadas estavam aproveitando a escuridão para fugir e escapar do massacre certo, ele começou a rogar aos deuses por um milagre.

Parecia um animal ferido, golpeando raivosamente com o seu machado objetos que lhe estavam próximos, como o leão que ruge ameaçando os seus caçadores de dentro da caverna onde eles o encurralaram. Durante horas cantou tristes mantras, como se prevendo a morte próxima, e dançou ao redor da enorme fogueira diante da qual a suprema sacerdotisa huna fazia sortilégios em busca de mensagens do além. Súbito, ela entrou em êxtase e da sua boca veio a mensagem salvadora: “Se recuares agora salvarás a ti e ao teu exército, pois os teus inimigos não te perseguirão”!

Meroveu aliou-se a Aécio desde o início e teve papel importantíssimo na vitória final. Auto-relevo
                                                                                 em bronze de Emanuel Fremiet (1867)

Átila não perdeu tempo e começou a organizar a retirada. Quando o sol nasceu, homens, cavalos e carroças se estendiam em imensa fileira até o horizonte, mostrando o grande exército bárbaro em ordeira retirada sob os olhos vigilantes dos aliados vitoriosos. Como a sacerdotisa afirmara, os exércitos aliados ficaram imóveis em suas posições e não perseguiram o enorme exército vencido, permitindo que Átila se retirasse, cruzasse o Reno e voltasse ao seu reino na atual Hungria.

A causa disso foi a morte de Teodorico na batalha, pois durante a noite o seu filho Torismundo procurou Aécio e disse-lhe que se os hunos não atacassem no dia seguinte os visigodos cessariam suas operações militares e voltariam ao seu reino para os funerais do rei e a escolha do sucessor, pois o trono era eletivo.

Ao romper da aurora, Aécio estava a cavalo no alto de uma colina com o seu estado-maior assistindo a retirada dos hunos e vendo Átila deslocando-se de um lado para o outro, dando ordens e organizando a retaguarda. De repente, as nuvens do amanhecer se dissiparam e os brilhantes raios de sol refletiram-se nas armaduras dos generais romanos, tornando Aécio bem visível.

Átila virou o cavalo, galopou em sua direção por cerca de cem jardas, parou, levantou o braço direito e acenou longamente em despedida diante dos olhares atônitos dos que assistiam àquele ato de inusitado cavalheirismo militar.

Depois fez meia volta e afastou-se lentamente. Foi a última vez que ambos se viram nesta vida.