sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Post nº 17


OS  REAIS  MOTIVOS  DO  ASSASSINATO  DE  AÉCIO - ÚLTIMO DOS GRANDES GENERAIS  ROMANOS

Aécio e Placídia representados por atores famosos em recente filme sobre Átila


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Na qualidade de Regente e tendo Aécio como ministro, exceto por alguns intervalos, Placídia governou o Império quatorze anos na menoridade do seu filho Valentiniano. Quando este foi coroado em 440 (A maioria dos historiadores diz que foi em 437), ela ficou mandando por trás do trono e Aécio continuou ministro. Em 450 ela morreu e Valentiniano assumiu o poder pleno, mas manteve Aécio no cargo até assassiná-lo em 454. Contado o tempo de jovem oficial, quando era um protegido do imperador-adjunto Constâncio, podemos dizer que Aécio andou pelo palácio imperial durante mais de trinta e cinco anos. Curiosamente, esta era a idade de Valentiniano na época do assassinato!

Placídia, embora muito mais moça que o marido, era um pouco mais velha que Aécio, mas a sua beleza e elegância fazia-os parecer terem a mesma idade. Não se sabe o tipo de relação existente entre eles antes da morte de Constâncio, e nem mesmo se existia alguma, mas quando o secretário João usurpou o trono, pondo de lado a viúva Placídia e o pequeno Valentiniano, o jovem general Aécio FICOU NEUTRO, embora alguns digam que apoiou João e só não combateu em seu favor porque estava entre os hunos buscando formar um exército para apoiá-lo. Todavia nem a lógica nem o desenrolar dos fatos apoiam a versão do seu "apoio" a João!

Quando João foi morto por seus próprios soldados e Placídia voltou, Aécio finalmente veio com suas tropas e ocupou a capital, deixando a imperatriz isolada no palácio com a sua guarda. A superioridade militar de Aécio era enorme e todos esperavam que ele se proclamasse imperador, mas os dois tiveram uma longa conversa a sós e Aécio informou seus partidários que estava tudo acertado: a imperatriz continuaria no trono e ele seria governador da Gália e seu ministro! Ambos trabalharam juntos durante anos e tiveram brigas homéricas que sempre acabavam da mesma forma: Aécio se afastava, passado algum tempo voltava à frente de um grande exército e Placídia ficava isolada no palácio. Depois de longas conversas a sós ele dizia que o dissídio fora superado e as coisas voltavam a ser como antes.

Átila, o rei dos hunos, visto aqui na célebre ópera "Attila" de Giuseppe Verdi, foi o grande rival militar do grande general romano Aécio, que o derrotou em 451 na Gália e em 452 na Itália

Os detalhes mudam conforme o narrador, mas na essência era isso o que acontecia. Daí os historiadores devotos dizerem que a imperatriz e o ministro eram “inimigos cordiais” que colaboravam por razões estritamente políticas e não por secretas razões sentimentais. Apesar dos boatos, desmentidos pelo fato deles não terem se casado quando Aécio também era viúvo, há sólidas evidências de que Placídia tinha relevantes motivos pessoais e políticos para não casar, que expomos em nosso livro “Memórias Íntimas de Flavius Marcellus Aetius” e resumiremos aqui.

Aécio era de origem rica e aristocrática, pois seu pai, apesar de cita de nascimento, era cidadão romano e um dos mais notáveis generais imperiais, tendo sido governador da Ilíria, conde da África e comandante-em-chefe da cavalaria do exército. Sua mãe pertencia à alta aristocracia romana de Milão, na época capital do Império do Ocidente, sendo o seu avô materno importante ministro na corte imperial. Mas ao contrário dos demais militares nobres, que adoravam sinecuras e evitavam batalhas, Aécio estava sempre na linha de frente. Quando criança, vivera entre os visigodos, cujo rei Alarico era seu padrinho, e já adolescente fora refém na corte dos hunos. Isto o fez aprender-lhes o idioma e conhecer a fundo seus armamentos e táticas militares, assim como fazer sólidas amizades. Bom diplomata e poliglota, se tornou amigo do rei dos hunos Roua, do rei dos francos Clodion (era padrinho do seu filho Meroveu), do rei dos burgundos Godofredo, do rei dos visigodos Teodorico e de vários outros reis e príncipes de povos chamados “bárbaros” pelos romanos, mas cujos idiomas e culturas Aécio conhecia e respeitava. Isto lhe deu estatura de líder europeu, mas lhe causou sérios problemas na Itália. Sobretudo porque não mostrava muita devoção religiosa. A aristocracia desconfiava da sua íntima ligação com os bárbaros, o clero suspeitava da sua fé (seus aliados visigodos eram heréticos arianos e os burgundos, francos e hunos eram pagãos) e o povo suspeitava dele pelas duas coisas. Ademais, o seu valor militar, bravura pessoal e índole explosiva criaram-lhe muitos inimigos que o chamavam de “caudilho ambicioso e turbulento”. Este conceito era partilhado por quase todos, exceto pelo exército, onde tinha grande apoio devido à lealdade dos seus soldados. Só depois que eliminou os seus rivais Bonifácio e Félix, generais devotos amados do clero e da aristocracia, é que ele solidificou-se no poder e Placídia parou de lhe criar problemas. A partir de 433, governou como bem quis, mas sempre ao lado dela até a sua morte. Depois disso, governou ao lado de Valentiniano até ser assassinado.

Placídia era uma raposa política e certamente via na má-fama de Aécio e na possível substituição de Valentiniano por um filho dele no caso de um matrimônio, sérios obstáculos para que ele acontecesse. Também o seu apego ao poder a impedia de entregá-lo por inteiro ao general, pois sabia que se o fizesse ele não mais seria manobrável e poderia pô-la de lado quando bem quisesse. Os favores dela à Igreja e o seu empenho em construir mosteiros e templos fez o clero considerá-la uma “santa”, e, como quase todos os historiadores da época eram clérigos, esforçaram-se ao máximo para preservar a reputação da sua protetora. Sobretudo quando esta poderia ser manchada por um suposto caso com o caudilho Aécio. O resultado é que não há registros dos boatos, que certamente existiam, dado o empenho que empregam na defesa da reputação da imperatriz. Se não existiam os boatos, então por que o empenho em negá-los? É possível que o raciocínio dos clérigos fosse o de que historiadores sérios não devem registrar boatos e maledicências. Por isso foi a versão deles a que prevaleceu: Aécio e Placídia eram inimigos cordiais que colaboravam por razões estritamente políticas!


Placídia era bonita e muito culta. Enviuvou pela 2ª vez  aos 32 anos e é difícil acreditar
que tenha permanecido casta pelo resto da vida

A falta de razões racionais para o covarde assassinato de Aécio, que eliminou o último obstáculo político e militar que precariamente preservava Roma das invasões dos bárbaros, ao nosso ver só pode ser atribuído ao insano ciúme incestuoso de Valentiniano, que obtendo a certeza, talvez falsa, de que, longe de serem apenas "aliados", Aécio e Placídia eram na verdade amantes, resolveu "lavar com sangue" a honra da sua adorada mãe já falecida. A insanidade política e militar do ato torpe de Valentiniano foi tão evidente que durante muito tempo se disse em Roma que ele agira "como o louco furioso que corta a sua mão direita com a sua mão esquerda"! Dado o seu caráter psicopático, é até mesmo possível que ele se tenha julgado filho adulterino de Aécio e, tal como uma reedição tosca e perversa do Édipo da mitologia grega, tenha matado por ciúme da mãe aquele que julgava ser seu pai. Isto nada tem de absurdo à luz da moderna criminologia, que está recheada de casos semelhantes, e foi exaustivamente explicado pela psicanálise freudiana.

Devido à fragilidade das outras versões, tanto da oficial como das alternativas, a única que faz sentido é a versão apresentada acima. Portanto, o CASO AÉCIO continua sendo um mistério para os historiadores porque eles repetem o que outros disseram e não buscam versões lógicas para fatos que parecem inexplicáveis. Como dizia o detetive Sherlock Holmes ao seu amigo Watson: "Se as hipóteses existentes são implausíveis, a verdadeira é aquela em que ninguém pensou antes”!


Nota: Aetius no latim clássico pronuncia-se  Écius e no latim vulgar Aécius. Em italiano é Ezio e em português é Aécio. Embora exista um quadro de Placídia com os filhos, não existe nenhum de Aécio. Os bustos e pinturas que se supõe serem dele são também atribuídos ao general Stilicon.


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