Apesar do grande avanço feito pelos gregos na "ciência da história", cuja criação é geralmente atribuída a Heródoto, a história da antiguidade está recheada de exageros, lendas e mitos que se afastam muito da verdade histórica. Aqui escolhemos alguns dos mitos mais notórios para expor e comentar.
1 – Os persas invadiram a Grécia três
vezes no século 5º AC com exércitos de centenas de milhares de homens!
O exército persa era enorme e tinha recursos materiais imensos, mas não tinha o trinamento, a disciplina, o armamento e a superior técnica de combate dos gregos |
Os historiadores gregos, a começar por Heródoto,
exageravam o número de soldados inimigos para exaltarem suas vitórias e
justificarem suas derrotas. Números excedendo uma centena de milhares de homens
são absolutamente fantasiosos porque não havia recursos logísticos na Grécia
capazes de abastecer tanta gente e era dificílimo fazê-lo por mar. Ademais, na terceira e última guerra, não houve invasão do território metropolitano da Grécia, tendo todos os combates sido travados na Ásia Menor e terminado com a submissão aos persas das colônias gregas ali situadas. De qualquer forma,
o exército persa sempre foi muito maior que os exércitos gregos coligados, que poucas vezes chegaram a ter juntos mais de uma dúzia de milhares de homens. Mesmo na segunda e maior das três guerras, as condições logísticas existentes apontam para cálculos realistas de mobilizações totais de 15.000 homens para os gregos e 90.000 para os persas, nesses números incluindo-se tripulações e tropas das grandes frotas navais de ambos os lados. Também para estas, é fantasioso qualquer número que ultrapasse a de 200 navios de batalha para cada um, pois nos adustos territórios da Grécia e da Ásia Menor não havia florestas que pudessem fornecer madeira bastante para tantas grandes e poderosas embarcações. Todavia, não excluímos a hipótese de que os contendores tenham mobilizado muitos navios mercantes para a luta, os quais, apesar de frágeis e inapropriados para o combate naval, teriam engrossado enormemente as duas esquadras inimigas.
2 – Na segunda invasão, comandada
pelo rei Xerxes, os persas quase foram derrotados nas Termópilas por 300
espartanos comandados pelo rei Leônidas!
O exército sob o comando de Leônidas tinha cerca de 6.000 homens, mas quando viu que a batalha estava perdida mandou seus aliados escaparem enquanto ele e os seus 300 espartanos detinham o
inimigo por algumas horas. Porém os espartanos não foram os únicos que ficaram para combater até o fim, pois 700 guerreiros de Thespis e 400 de Tebas também ficaram. Portanto, o último baluarte dos gregos totalizava 1.400 homens e não apenas os "300 de Esparta". Como visto, os espartanos eram uma pequena minoria entre os últimos defensores, mas a história foi generosa com eles e preservou-lhes a memória, esquecendo os outros que também sacrificaram suas vidas na luta final. O ato foi de extraordinária nobreza porque espartanos, thespianos e tebanos deram suas vidas para que os demais sobrevivessem, mas não foram
eles os únicos que enfrentaram com sucesso os persas durante a maior parte da batalha: a
notável façanha foi de todo o exército grego de 6.000 homens. Os persas, porém, não estiveram a altura da ocasião e não demonstraram nenhuma grandeza, porque, ao invés de honrarem os seus valorosos adversários vencidos, jogaram seus corpos nus ribanceira abaixo no mar. Quanto a Leônidas, espetaram sua cabeça numa lança e crucificaram seu corpo decapitado, passeando entre as tropas com os despojos sangrentos do seu bravo inimigo para que a vil soldadesca o ultrajasse da forma mais baixa e indigna. Os persas venceram, mas não mereceram.
O exército grego era pequeno mas suas couraças, escudos, armamentos e técnicas de combate eram muito superiores aos dos persas |
3 – Atenas foi o berço da civilização grega!
Atenas atingiu seu apogeu econômico e militar no século 5º AC e tornou-se o centro cultural da Grécia. Antes ele estava nas cidades gregas das ilhas jônicas e do litoral da Ásia Menor. |
4 – A rainha Cleópatra descendia dos
antigos Faraós egípcios!
Cleópatra não tinha qualquer relação com os antigos Faraós egípcios. Embora nascida no Egito, ela pertencia à família grega dos Lágidas e descendia do general Ptolomeu, nomeado por Alexandre Magno governante do Egito. Sua capital era Alexandria, cidade grega plantada no delta do Nilo por Alexandre e povoada por milhares de famílias trazidas da Grécia. O idioma oficial da cidade, assim como da corte, era o grego, embora as classes baixas falassem também a língua comum do país. Muito culta, Cleópatra aprendeu o idioma egípcio e escrevia e lia os hieróglifos. A fim de unificar o povo sob o seu cetro, ela se fazia passar pela deusa Ísis, o que fez os seus inimigos romanos a chamarem com desprezo de “A Egípcia”, mesmo ela sendo grega. A história diz que além de refinada e sedutora, ela era também muito bonita, mas não temos nenhum busto, retrato ou estátua sua de autenticidade comprovada. Após a avassaladora vitória sobre ela e Marco Antonio, o imperador Augusto, devido à desfeita que ela tinha feito à sua irmã Otávia, esposa legítima de Marco Antônio, negando-se a encontrá-la em Atenas e obrigando-a a voltar a Roma sem ver o marido, mandou destruir todas as suas imagens para extirpá-la da lembrança dos pósteros e varrê-la da história. Como visto, falhou redondamente, pois destruiu a sua imagem mas eternizou a sua memória.
5 – A república democrática era o regime político da Grécia!
O regime político predominante na Grécia era a
república aristocrática, geralmente disfarçada de monarquia, como no caso de Esparta, ou de tirania, como no caso da maioria das cidades gregas. Monarquias
autênticas só existiram na Macedônia, e verdadeiras democracias apenas em meia
dúzia de cidades, dentre elas destacando-se Atenas, onde o regime democrático
foi criado. Mesmo assim a democracia teve altos e baixos em Atenas durante dois
séculos, até se tornar meramente formal com o domínio de Alexandre no século IV
AC e desaparecer de todo com a conquista romana no século II AC. A partir daí
Atenas e as demais cidades gregas tornaram-se simples municipia romanas. A democracia só reapareceu 2.000 anos depois com
a Guerra Americana de Independência no século XVIII da nossa era. Ainda hoje a
democracia tem grandes dificuldades para se firmar no mundo, pois a maioria dos
países continua a adotar a aristocracia ou a tirania como regime político.
Cleópatra não tinha qualquer relação com os antigos Faraós egípcios. Embora nascida no Egito, ela pertencia à família grega dos Lágidas e descendia do general Ptolomeu, nomeado por Alexandre Magno governante do Egito. Sua capital era Alexandria, cidade grega plantada no delta do Nilo por Alexandre e povoada por milhares de famílias trazidas da Grécia. O idioma oficial da cidade, assim como da corte, era o grego, embora as classes baixas falassem também a língua comum do país. Muito culta, Cleópatra aprendeu o idioma egípcio e escrevia e lia os hieróglifos. A fim de unificar o povo sob o seu cetro, ela se fazia passar pela deusa Ísis, o que fez os seus inimigos romanos a chamarem com desprezo de “A Egípcia”, mesmo ela sendo grega. A história diz que além de refinada e sedutora, ela era também muito bonita, mas não temos nenhum busto, retrato ou estátua sua de autenticidade comprovada. Após a avassaladora vitória sobre ela e Marco Antonio, o imperador Augusto, devido à desfeita que ela tinha feito à sua irmã Otávia, esposa legítima de Marco Antônio, negando-se a encontrá-la em Atenas e obrigando-a a voltar a Roma sem ver o marido, mandou destruir todas as suas imagens para extirpá-la da lembrança dos pósteros e varrê-la da história. Como visto, falhou redondamente, pois destruiu a sua imagem mas eternizou a sua memória.
5 – A república democrática era o regime político da Grécia!
Atenas atingiu o apogeu no século 5º AC durante o governo de Péricles |
6 – A república romana era uma democracia
que foi destruída por César e substituída pela ditadura imperial!
A república romana era uma ditadura aristocrática constituída pela rígida divisão de classes entre Patrícios e Plebeus. Mesmo quando os plebeus se revoltaram no século V AC e obtiveram as concessões estabelecidas na Lei das XII Tábuas, eles continuaram fora do governo. O Tribuno do Povo, mais alto magistrado plebeu criado pela Lei, gozava de absoluta imunidade e a sua pessoa era sagrada; quem o tocasse era condenado à morte e ele tinha poder de veto sobre qualquer lei votada pelo Senado; ao levantar sua mão direita qualquer patrício era obrigado, sob pena de morte, a parar o ato que estava praticando contra um plebeu, mas o tribuno do povo não participava do governo e nem sequer podia entrar no Senado; o máximo que se lhe permitia era ficar no vestíbulo esperando o fim das sessões, quando só então podia apresentar suas reclamações ou reivindicações aos senadores na porta do Senado. Com o tempo essa rigidez desapareceu, mas a separação de classes continuou e os conflitos sociais explodiram com inaudita violência no início do século 1º AC entre a própria elite dirigente, dividida entre os optimates, conservadores radicais que se opunham a qualquer reforma, e os populare, liberais que as defendiam como única forma de resolver os graves problemas econômicos e sociais que ameaçavam a estabilidade política da República. Correram rios de sangue, até que finalmente Júlio César, um liberal e reformista moderado, assumiu o poder supremo como ditador nomeado pelo Senado e implantou a paz. Para dar início ao seu programa de reformas, ele nomeou para o cargo de senador centenas de plebeus ricos e de altos oficiais do seu exército, tornando-os patrícios, e enfeixou em suas mãos os poderes dos mais importantes magistrados a fim de acabar com as disputas pelo poder e as constantes guerras civis que delas resultavam. Isto enfureceu os aristocratas, muitos deles seus amigos, que terminaram por assassiná-lo esperando readquirir o antigo domínio político. Porém o brutal e traiçoeiro assassinato foi em vão, pois o povo preferia um tirano único que assegurasse a paz ao invés de dúzias de tiranos que produziam anarquia, miséria e guerra civil. Muitos aristocratas sensatos viram que a "fórmula cesárea" era a melhor solução para assegurar a prosperidade e a fortaleza de Roma, e o regime imperial foi implantado com enorme apoio popular, embora sob o disfarce de “república”. O incrível sucesso do Império Romano durante séculos mostrou que César estava certo ao acabar com a insana “liberdade” dos aristocratas.
a feição de autênticos conflitos sanguinolentos entre quadrilhas mafiosas |
A república romana era uma ditadura aristocrática constituída pela rígida divisão de classes entre Patrícios e Plebeus. Mesmo quando os plebeus se revoltaram no século V AC e obtiveram as concessões estabelecidas na Lei das XII Tábuas, eles continuaram fora do governo. O Tribuno do Povo, mais alto magistrado plebeu criado pela Lei, gozava de absoluta imunidade e a sua pessoa era sagrada; quem o tocasse era condenado à morte e ele tinha poder de veto sobre qualquer lei votada pelo Senado; ao levantar sua mão direita qualquer patrício era obrigado, sob pena de morte, a parar o ato que estava praticando contra um plebeu, mas o tribuno do povo não participava do governo e nem sequer podia entrar no Senado; o máximo que se lhe permitia era ficar no vestíbulo esperando o fim das sessões, quando só então podia apresentar suas reclamações ou reivindicações aos senadores na porta do Senado. Com o tempo essa rigidez desapareceu, mas a separação de classes continuou e os conflitos sociais explodiram com inaudita violência no início do século 1º AC entre a própria elite dirigente, dividida entre os optimates, conservadores radicais que se opunham a qualquer reforma, e os populare, liberais que as defendiam como única forma de resolver os graves problemas econômicos e sociais que ameaçavam a estabilidade política da República. Correram rios de sangue, até que finalmente Júlio César, um liberal e reformista moderado, assumiu o poder supremo como ditador nomeado pelo Senado e implantou a paz. Para dar início ao seu programa de reformas, ele nomeou para o cargo de senador centenas de plebeus ricos e de altos oficiais do seu exército, tornando-os patrícios, e enfeixou em suas mãos os poderes dos mais importantes magistrados a fim de acabar com as disputas pelo poder e as constantes guerras civis que delas resultavam. Isto enfureceu os aristocratas, muitos deles seus amigos, que terminaram por assassiná-lo esperando readquirir o antigo domínio político. Porém o brutal e traiçoeiro assassinato foi em vão, pois o povo preferia um tirano único que assegurasse a paz ao invés de dúzias de tiranos que produziam anarquia, miséria e guerra civil. Muitos aristocratas sensatos viram que a "fórmula cesárea" era a melhor solução para assegurar a prosperidade e a fortaleza de Roma, e o regime imperial foi implantado com enorme apoio popular, embora sob o disfarce de “república”. O incrível sucesso do Império Romano durante séculos mostrou que César estava certo ao acabar com a insana “liberdade” dos aristocratas.