terça-feira, 15 de março de 2011

Post nº 30

O  ASSASSINATO  DE CÉSAR
Roma era uma república aristocrática governada por um senado de nobres hereditários, mas suas sessões
às vezes eram tumultuadas e violentas. César foi assassinado durante uma delas

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César foi assassinado com vinte e sete punhaladas em plena  sala de sessões do Senado Romano por um grupo de conspiradores, entre os quais estavam vários amigos e protegidos seus. Ele dispensara a guarda regulamentar e chegara acompanhado apenas de senadores que secretamente conspiravam e que o tinham ido buscar em casa para matá-lo no senado logo que chegassem, dando ao crime conotação política. Tudo ocorreu como planejado. Assim que chegou à sala de sessões outros conspiradores o cercaram fingindo apresentar-lhe petições para distraí-lo e enquanto conversavam um deles o apunhalou pelas costas. Ferido, tentou defender-se, mas os outros sacaram dos punhais e o golpearam repetidas vezes até matá-lo. Havia cerca de duzentos senadores presentes e eram seus partidários na grande maioria, mas tomados de surpresa e desarmados, pois era proibido entrar com armas no senado, correram ou ficaram petrificados em seus lugares ouvindo os discursos dos assassinos enquanto o cadáver de César jazia aos pés da estátua de Pompeu, seu falecido rival.


Ao dar início à conquista da Gália aos 42 anos de idade César
ainda era um homem bonito e sedutor
    
O ditador estava com cinquenta e seis anos e ocupara todos os cargos relevantes da República. Era um fino e simpático aristocrata, muito sedutor, elegante homem de sociedade, talentoso escritor, hábil político, brilhante orador e, o mais importante de tudo, grande general e extraordinário estadista. Por suas vitórias militares o senado lhe dera quatro vezes as honras de desfiles triunfais e o título honorífico de Imperator (Imperador), que significava general vitorioso que impera sobre os inimigos da República. Sua enorme popularidade o elegera e reelegera várias vezes para os mais importantes cargos, dentre os quais destacavam-se os de Pontifex Maximus, autoridade religiosa suprema a quem competia fiscalizar os sacerdotes, cuidar dos templos e presidir as festividades religiosas, Tribuno do Povo, porta-voz dos reclamos populares com poder de veto sobre decisões do senado e cuja pessoa era sagrada, Consul, suprema autoridade executiva civil e militar, e finalmente Ditador, cargo que o dispensava de qualquer controle senatorial. Mas mesmo como ditador César fazia questão de despachar em público e discutir as decisões com os colegas, de forma  que ao serem adotadas elas tivessem o respaldo da maioria. Só quando o dissídio era profundo é que ele usava dos seus poderes supremos e impunha a sua vontade aos recalcitrantes, mas isso raramente acontecia e o seu modo de governar conquistara a todos, fazendo-os se pouparem do trabalho de reelegê-lo ao fim de cada mandato nomeando-o de uma vez por todas Ditador Vitalício.

Todos se sentiam satisfeitos com o popular imperator porque povo e aristocracia estavam cansados de cinquenta anos de guerras civis e disputas pelo poder que só tinham produzido morte, destruição e miséria. Ele trouxera de volta a paz e a prosperidade, o que agradava aos senadores e ao povo, pois tinham na sua falta de arrogância, simplicidade, competência e generosidade a garantia de que não usaria o poder absoluto de forma tirânica e abusiva, mas apenas para o bem da República. A prova disso é que o cargo não alterara o seu procedimento simples e cordial, pois andava pelas ruas de Roma com os amigos sem qualquer aparato, a não ser a guarda regulamentar, saudando as pessoas e sendo por elas saudado, muitas vezes com grandes efusões bajulatórias, coisa que não o agradava.  Quando lhe vinham com petições ele as passava a um assessor dizendo gentilmente que logo teria uma resposta.

Apesar de ditador e membro da alta aristocracia romana, César não hesitava
estar com o povo e assistir o carnaval nas ruas de Roma
              
No carnaval romano, ocorrido um mês antes do crime, apesar de não ser carnavalesco ele fora assistir a brincadeira nas ruas em companhia de amigos. Foi nessa ocasião que o inveterado farrista Marco Antônio, seu amigo íntimo, passara com um bloco de foliões fantasiados de bode e quisera coroá-lo “Rei do Carnaval”. Educadamente recusara a ridícula “coroa” e os foliões se foram, bebendo, troçando, estalando chicotes e entoando canções pornográficas. Mais tarde criou-se a lenda de que ele queria ser “rei” e mandara Marco Antonio oferecer-lhe a “coroa” durante os festejos, mas “os protestos do povo” o tinham feito recusar.

Porém em meio à satisfação geral alguns aristocratas invejosos e descontentes tramavam, alegando que as antigas Leis da República não previam o cargo de “Ditador Vitalício”. Portanto o mesmo era “inconstitucional” e uma ameaça às “liberdades dos cidadãos”, provando apenas a insaciável sede de César por mais poder. Na verdade, o que eles temiam eram as reformas que estavam sendo discutidas, tais como a redistribuição de terras ociosas públicas ou particulares em mãos de latifundiários que as usurparam ou as possuíam apenas para especular. Outras seriam a redução e tabelamento dos aluguéis urbanos e dos juros; o abatimento dos pequenos débitos e o razoável parcelamento dos grandes; a extinção das hipotecas sobre pequenas propriedades rurais e modestas casas residenciais; a impossibilidade de reduzir o cidadão à condição de escravo por dívidas, etc.

César estava no ápice da carreira e planejava grandes reformas políticas
e sociais quando foi assassinado pela oposição conservadora
          
Após o carnaval começaram a circular em Roma boatos de que um golpe de estado estava em andamento. Adivinhos profetizavam que uma grande desgraça iria acontecer, pois um cometa surgira no céu, um flamejante meteoro cruzara o espaço, ocorrera uma chuva de estrelas, etc. Augures sacrificavam animais e liam em suas entranhas sinistros presságios sobre a morte violenta de um grande romano, possivelmente o “pai da pátria”. Poucos dias antes do crime, quando o ditador passava na rua em sua liteira, um augure lhe gritara “César! Cuidado com os idos de março”, o que significava “cuidado com o dia 15 de março”. Isto mostra que a conspiração se tornara um segredo de Polichinelo, pois quase todo mundo sabia e só quem parecia não saber era César.

Na madrugada do dia 15 de março de 44 AC a sua esposa Calpúrnia acordou assustada com os trovões e relâmpagos de uma chuvarada que caía sobre Roma e lhe disse que tivera um horrível sonho, no qual o via cheio de ferimentos e ensangüentado. Suplicou-lhe que não saísse naquela manhã e ele a atendeu, mandando informar ao Senado que estava adoentado e não iria à sessão. Porém logo depois um grupo de “amigos”, todos conspiradores, o visitou pretextando “saber da sua saúde” e disseram-lhe que um mero incômodo não justificava ao “grande César privar os amigos da sua presença no debate de importantes matérias que seriam depois submetidas à sua aprovação”.

Ele finalmente aquiesceu à insistência dos “amigos” e resolveu ir desarmado e sem sequer vestir uma cota de malha sob a toga. Para completar, dispensou a guarda e foi sozinho em sua liteira, acompanhado apenas dos “amigos” que o seguiam a pé conversando animadamente. No caminho, um cidadão anônimo aproximou-se e lhe entregou um documento, que ele não abriu e nunca leu.

Depois do crime o acharam na liteira onde ele o deixara ao chegar ao Senado: era a denúncia por escrito da conjuração, detalhando o plano sinistro e listando os nomes de todos os conjurados!


Nota: a maioria dos historiadores nega a César o título de 1º imperador de Roma, apesar do Senado lhe ter conferido o título vários vezes, e o atribuem ao seu sobrinho Augusto. Mas os poderes deste não eram superiores aos daquele e os imperadores romanos não eram chamados de Imperador, mas de César, fazendo do seu nome latino "Caesar" título. Dele derivaram Czar em russo e Kaiser em alemão, ambos significando imperador. Por isso sustento ter sido César o 1º imperador romano.

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