Post nº 06
O GOLPE MILITAR QUE DESTRUIU A ORDEM DOS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS
Rei Felipe IV de França apelidado "O Belo". Ele destruirá a Ordem dos Cavaleiros Templários com um golpe militar fulminante. Tela de autor anônimo do século XIX |
Na manhã da quinta-feira 12 de outubro de 1307 realiza-se em Paris o solene funeral de Catarina de Courtenay, neta do imperador de Constantinopla e esposa do nobilíssimo Carlos de Valois. O rei Felipe o Belo e toda a alta nobreza estão presentes, incluindo o Grão-Mestre Templário Jacques de Molay, ao qual cabe a subida honra de segurar uma das pontas da mortalha. O poderosíssimo Grão Mestre ainda não sabe, mas ele está vivendo o seu último dia de glória e liberdade: no dia seguinte estará maltrapilho em um calabouço imundo e daí a 6 anos e 5 meses morrerá na fogueira depois de sofrer as mais ultrajantes torturas e humilhações. Tudo que restará dos seus temidos Cavaleiros Templários serão superstições e lendas que sobreviverão ao peso dos séculos.
Notre Dame de Paris onde Jacques de Molay aparecerá livre e poderoso em público pela última vez. No
dia seguinte ele e seus cavaleiros estarão acorrentados em calabouços imundos.
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Porém nesta manhã, onde luto é apenas pretexto para exibição de poder e vaidade, nada nos rostos dos dois homens denota a batalha diplomática secreta que travam junto ao papado em torno da poderosa e riquíssima Ordem dos Cavaleiros do Templo de Jerusalém, pois somente o Sumo Pontífice tem jurisdição sobre ela. Jacques de Molay está tranqüilo e confiante no apoio do Papa, que o mantém a par das manobras diplomáticas de Felipe, mas ignora totalmente sua secreta preparação para uma eventual solução militar caso a diplomacia não lhe permita alcançar os seus perversos objetivos.
As denúncias contra os Templários colecionadas por Felipe se acumulam há meses e em agosto as partes envolvidas concordam que seja instaurado inquérito real-eclesiástico, conduzido por comissão mista de juízes indicados pelo Rei e pelo Papa, para apurá-las e por um ponto final na questão, fazendo cessar de vez os falatórios. O início das audiências é marcado para o dia 20 de outubro e tudo parece seguir os devido trâmites legais.
Castelo e sede dos Templários em Paris, demolido quinhentos anos mais
tarde por Napoleão Bonaparte. Tela de autor anônimo (1795)
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O Rei parece conformado, pois há semanas não toca no assunto, mas é tudo um disfarce, pois Felipe não é homem de aturar desafios à sua autoridade nem deixar que tecnicalidades legais se interponham entre ele e os seus objetivos. Cansado das delongas papais, há um mês reuniu em sigilo o seu conselho privado e decidiu pela radical supressão da Ordem, lavrando-se o rol de terríveis acusações e o mandado de prisão dos seus membros. Ele sabe que somente agindo disfarçado nas trevas poderá apanhar de surpresa os aguerridos e experientes Cavaleiros com chances de vitória, por isso todo o seu sinistro plano é mantido em rigoroso segredo e medidas preliminares são tomadas. O Capelão da Corte, seu servo obediente, é o Grande Inquisidor da França e o seu aval é obtido sem dificuldades. O exército fica de prontidão nos quartéis, restaurando a disciplina e treinando para enfrentar “futuros inimigos externos”. Peça chave da conspiração oficial, o exército é posto de prontidão e os comandantes nada dirão aos soldados, mas devem ficar no aguardo de importantes ordens reais cujo teor eles ignoram e que podem chegar a qualquer momento.
Sabendo que os cavaleiros vão estar ocupados reunindo documentos, procurando testemunhas e planejando depoimentos nos dias que antecederão à abertura do Inquérito, ele marca o dia do golpe para uma semana antes do seu início: 13 de outubro! Nem uma palavra vaza sobre os Templários, homens do Papa e amigos do Rei.
Finalmente chega a hora. Enquanto ocorrem as suntuosas exéquias de Catarina de Courtenay em Paris, velozes correios militares cruzam a França com mensagens urgentes aos comandantes das guarnições do exército. As ordens estão lacradas e só serão abertas à zero hora da sexta-feira 13 de outubro. Após romperem o lacre e tomarem conhecimento das determinações reais, deverão executar imediatamente as suas detalhadas instruções.
Ao primeiro cantar do galo os comandantes dirigem-se com pequena escolta às fortalezas templárias, chamadas comendas, dizendo trazerem notícias urgentes. Abertos os portões, tropas ocultamente posicionadas penetram e os monges guerreiros são presos ainda em trajes de dormir. Com calma, sem erros ou precipitações, as ordens são executadas na mesma hora e com a mesma eficiência em todo o país, prendendo Cavaleiros aterrorizados pelas espantosas acusações que ouvem como se fosse um pesadelo. Alguns fogem, outros se suicidam. Em Arras, cavaleiros são sumariamente degolados.
Jacques de Molay, grão-mestre da Ordem dos Cavaleiros Templários.
Obra de autor anônimo. Bibliothéque Nationale de France
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Ao primeiro cantar do galo os comandantes dirigem-se com pequena escolta às fortalezas templárias, chamadas comendas, dizendo trazerem notícias urgentes. Abertos os portões, tropas ocultamente posicionadas penetram e os monges guerreiros são presos ainda em trajes de dormir. Com calma, sem erros ou precipitações, as ordens são executadas na mesma hora e com a mesma eficiência em todo o país, prendendo Cavaleiros aterrorizados pelas espantosas acusações que ouvem como se fosse um pesadelo. Alguns fogem, outros se suicidam. Em Arras, cavaleiros são sumariamente degolados.
Em toda a França é uma madrugada de medo e horror!
Em Paris, as operações são dirigidas pelo Ministro da Justiça Guilherme de Nogaret, que pessoalmente dá voz de prisão ao Grão-Mestre Jacques de Molay e a cento e quarenta dos seus cavaleiros, levados acorrentados aos imundos calabouços sem que sequer lhes permitam mudar de roupa. Muitos de lá somente sairão para as fogueiras.
Iluminura medieval mostrando os Templários sendo levados pelos guardas ao calabouço. Note-se
que estão descalços e vestindo apenas o hábito com que foram presos dormindo
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Quando o dia amanhece as fortalezas templárias estão em poder das tropas reais, os Cavaleiros estão presos ou mortos e a população está atônita. O segredo da assombrosa operação militar foi mantido e Felipe o Belo triunfa de ponta a ponta, criando no século XIV uma técnica de Golpe de Estado que no século XX vai ser estudada e aplicada por todos que almejam conquistar ou manter o poder por meios violentos, livrando-se de adversários poderosos com um Golpe Militar devastador e fulminante. Se do ponto de vista administrativo e ético ele se mostrou e se mostrará cruel e corrupto, de agora em diante ele também se mostrará competente e implacável líder militar e político, com toda a frieza e cinismo que isto implica.
O ministro Guilherme de Nogaret conduz o golpe e prende
Jacques de Molay. Autor anônimo (séc. XVIII)
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O vitorioso rei instala-se no Templo, manda abrir os cofres e livros da Ordem e apodera-se das suas riquezas, prometendo divulgar o valor arrecadado logo que o inventário estiver completo, promessa que é logo esquecida. Ninguém jamais saberá o montante do Tesouro apreendido e nem mesmo se houve algum, pois surgirão fortes suspeitas de que Felipe nada encontrou. Os comentários serão de que os cavaleiros o teriam levado para local secreto face ao tenso relacionamento com a coroa nos meses anteriores ao golpe e se negavam agora a revelá-lo ao traiçoeiro monarca, mesmo sob ultrajantes torturas.
O imenso tesouro desaparecido, posto fora do alcance das mãos ávidas do ganancioso rei, será apenas uma das questões discutidas nos anos seguintes. Por enquanto o longo e tenebroso processo judicial dos Cavaleiros Templários e a secular polêmica histórica sobre os mistérios que os cercam estão somente começando.
O seu desfecho será sinistro !
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