sábado, 16 de outubro de 2010

Post nº 04

OS  CAVALEIROS  TEMPLÁRIOS  -  UMA  SAGA  DE  HEROÍSMO  MILITAR  E  TRAGÉDIA  POLÍTICA
A tomada de Jerusalém pelos Cruzados em 1099 levaria à criação da Ordem
dos Cavaleiros Templários para guardar e proteger os lugares santos


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Poucos assuntos têm sido tão explorados pelos modernos fabricantes de mitos quanto a Ordem dos Cavaleiros do Templo de Jerusalém, extinta há setecentos anos por um feroz processo ordenado pelo Rei de França e sancionado pelo Papa. Os seus líderes morreram na fogueira por práticas diabólicas e as riquezas imobiliárias da Ordem foram parar nas mãos do rei francês e dos reis europeus que o apoiaram.
           
Digo riquezas imobiliárias porque as riquezas monetárias (ouro, prata, jóias, pedras preciosas e moedas de todos os tipos), cujo montante se sabia ser enorme, jamais foram encontradas, nem na sede da Ordem em Paris nem nas suas fortalezas espalhadas por toda a Europa. Quando as tropas reais as ocuparam e prenderam os cavaleiros que lá estavam os tesouros tinham sumido!
           
O fragor do longo e escandaloso processo ressoa até hoje, e o mistério do Tesouro dos Templários tem sido fonte para as estórias mais mirabolantes. Tudo quanto é de seita obscura, real ou imaginária, tem sido relacionado à Ordem, a qual, segundo os produtores de mistério, existe secretamente até hoje e os seus membros guardam terríveis segredos que envolvem intrincadas tramas e conspirações.

 As lutas entre cristãos e muçulmanos tumultuaram o Oriente Médio
             durante dois séculos. Tela de Eugène Delacroix (séc. XIX)
         
Todos esses imaginosos enredos constituem ótimo divertimento, mas não têm nada a ver com a verdade da história real. A Ordem dos Cavaleiros Templários nasceu em 1118 quando dois jovens cruzados franceses da alta nobreza, Hugo de Payen e Godofredo de Saint-Omer, decidiram adotar a vida de monges sem abandonar o mundo secular, continuando a guerrear os infiéis na Terra Santa e a proteger os peregrinos que seguiam por suas perigosas estradas e desfiladeiros. O número de monges-soldados aumentou e a sua bravura, fé e desprendimento logo espalharam a sua fama por toda parte.
 
   Em 1128 o Concílio de Troyes aprovou a Ordem dos
      Templários. Gravura de autor anônimo (séc. XIX

O rei Balduíno II de Jerusalém lhes deu para alojamento um prédio anexo às ruínas do Templo judeu, em cujo topo está a célebre mesquita Al-Aksa, e eles o transformaram em grande fortaleza que se expandiu pelos subterrâneos do Templo, criando a lenda de que os cavaleiros os escavavam em busca do Tesouro do rei Salomão. Mais tarde a lenda foi acrescida do mito de que eles o teriam achado e por isso teriam se tornado imensamente ricos. Por controlarem as ruínas do Templo e nelas terem o seu quartel principal, eles passaram a ser chamados de Os Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, nome este que adotaram para a sua Ordem quando alguns anos mais tarde ela veio a ser oficializada por bula papal que lhe aprovou os estatutos.

 O Templo de Jerusalém foi destruído pelos romanos no século I DC e os
   cavaleiros ocuparam suas  ruínas ganhando o nome de "Templários"
   
Uma ordem de monges que ao invés de viverem reclusos no mosteiro meditando e rezando viviam de espada em punho matando nos campos de batalha era um conceito estranho à longa tradição cristã e por isso houve muita resistência ao reconhecimento da nova organização religiosa. Em 1127, Hugo de Payen e alguns companheiros chegaram a Roma em busca da aprovação papal e o Santo Padre nomeou o nobre clérigo Bernardo de Claraval, famoso por sua erudição e santidade, para estudar o assunto. Ele aderiu com entusiasmo à iniciativa dos bravos cavaleiros e reuniu brilhante Concílio na cidade francesa de Troyes que a debateu durante semanas. Finalmente a Ordem foi estabelecida em 1128 e Bernardo se tornou seu pai espiritual e maior propagandista, fazendo com que a sua fama corresse toda a Europa. Reis e príncipes lhe doaram castelos e propriedades, homens ricos a presentearam com fortunas em dinheiro e milhares de jovens nobres, fanaticamente religiosos e sedentos de aventuras, nela ingressaram com fervor. Em pouco tempo a Ordem dos Cavaleiros do Templo tornou-se a espinha dorsal do exército cruzado e a mais poderosa e afamada de toda a cristandade.

A Ordem cresceu quando Bernardo de Claraval pregou
          a II Cruzada. Tela de Émile Signol (séc. XIX)
           
A Ordem fortaleceu-se ainda mais quando em 1146 São Bernardo de Claraval pregou por toda a Europa a II Cruzada e convocou os jovens nobres a juntarem-se aos Templários. Ela novamente recebeu uma torrente de novos membros e tornou-se um verdadeiro exército com milhares de homens treinados dia e noite para o combate. Eram todos rapazes ricos dos mais diversos níveis da nobreza e alguns tinham status de príncipes por pertecerem a casas reinantes, mas uma vez cavaleiros templários os privilégios desapareciam e tudo era concentrado nos esforços para deter o avanço islâmico que havia retomado várias cidades e agora ameaçava retomar Jerusalém. Porém o mais significativo de tudo é que com os novos cavaleiros veio não só nova onda de entusiasmo, mas também nova onda de doações que tornaram a Ordem ainda mais rica do que já era.

     Hugo de Payen criou a Ordem, mas quem lhe deu poder foi São
       Bernardo. Quadro de Georg Andreas Wasshuber (séc. XVIII)
  
Ela agora possuía terras, castelos, fortalezas, exércitos, esquadras e lojas nos principais portos da Europa e do Oriente Médio, o que a fez criar as cartas de crédito para transferência de dinheiro: comprava-se uma carta na loja da Ordem em Londres, que cobrava uma taxa pelo serviço, e se a sacava na loja de destino. Isto, que hoje é trivial, era novidade no século XII e deu início à economia globalizada.

Durante sessenta anos os Cavaleiros Templários foram o braço armado e principal sustentáculo do reino cristão da Palestina, mas no final do século XII o sultão Saladino reconquistou Jerusalém e a Ordem viu-se obrigada a retirar-se, abandonando sua sede nas ruínas do Templo. Todavia conservou o seu nome tradicional e continuou lutando com denodo  na esperança de retomar a cidade e fazer as coisas voltarem ao que eram. Nos oitenta anos seguintes não parou de crescer e de obter vitórias contra os muçulmanos tanto no Oriente como na Península Ibérica, onde foi fundamental para a expulsão dos árabes de Portugal, mas não conseguiu obter a vitória que realmente lhe importava: Jerusalém!

Na segunda metade do século XIII as cruzadas tiveram uma parada e o principal objetivo da Ordem, que era a reconquista da guarda do Santo Sepulcro e dos lugares santos, ficou cada vez mais distante. Para completar, os príncipes espanhóis fizeram uma trégua com o Sultão de Granada, deixando os cavaleiros sem ter o que fazer e o seu valoroso grão-mestre buscando uma nova razão de ser para a poderosa organização que dirigia.

      Sagração de Jacques de Molay, último grão-mestre da Ordem dos
           Cavaleiros Templários. Quadro de Marius Granet (séc. XIX)

O seu último grão-mestre Jacques de Molay tentou organizar nova cruzada e chegou a assolar o litoral da Palestina e do Egito com uma grande esquadra que montara com os vastos recursos da Ordem, mas o empreendimento se mostrou irrealizável quando o império mogol da Pérsia, seu provável aliado militar contra os sultanatos árabes do Cairo e de Damasco, desistiu de uma guerra a Oeste e investiu sobre à Índia no Leste, fazendo com que a chegada do século XIV encontrasse a Ordem quase que militarmente inativa. Os tempos de ociosidade militar que se seguiram minaram ainda mais a sua capacidade guerreira, mas não lhe diminuíu a arrogância nem o hábito de ganhar dinheiro e amealhar riquezas, adquirido ao longo de cento e oitenta anos de incrível sucesso político-militar e imensa prosperidade econômica.

             Isto levaria à sua destruição.


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